Uma exigência dos oficiais de segurança da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, onde 21 pessoas morreram durante uma explosão na última sexta-feira, salvou a vida dos cinco alunos e professores da Universidade Norte do Paraná (Unopar) que acompanhavam os testes para o lançamento de um foguete.
Eles foram impedidos de ter acesso ao local onde logo depois ocorreria o acidente porque dois integrantes do grupo estavam vestindo bermudas. Os cinco acadêmicos da Unopar retornaram a Londrina no sábado. A equipe, supervisionada pelo professor da Unopar Fernando Stancato, 40 anos, e o pesquisador da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Antônio Deliberador, 50 anos, se preparava para o primeiro lançamento de um satélite desenvolvido por alunos de graduação no mundo. O satélite já estava posicionado dentro do foguete e a operação de lançamento começaria amanhã.
Por volta das 13h30 de sexta-feira, o Veículo Lançador de Satélites (VLS) sofreu uma explosão e acabou matando 21 servidores civis do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com sede em São José dos Campos (SP), que trabalhavam na plataforma do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Foi o primeiro acidente do gênero envolvendo vidas humanas no Brasil.
A nuvem de fumaça causada pela explosão foi visível até em São Luís (MA). Ao perceberem o início da queima dos combustíveis do foguete, as equipes que trabalhavam próximas à plataforma se dispersaram em busca de abrigo.
''Entramos na mata e seguimos pela trilha até o abrigo mais próximo'', conta o aluno da Unopar Mário Cezar Paiva, 29 anos. ''Havia a possibilidade de estarmos naquela torre (local da explosão) se não tivéssemos sido barrados por usar shorts'', acreditam os outros dois estudantes da equipe, os irmãos Lucas Prado Lone, 23 anos, e Tiago Prado Lone, 21 anos.
O acidente, cuja causa ainda está sendo avaliada por uma comissão de investigação, surpreendeu aos participantes do projeto de lançamento do foguete. ''Estávamos indo muitíssimo bem, os satélites funcionando em perfeita ordem. Mas todos sabíamos que era uma área perigosa, sujeita a acidentes'', relata Stancato, lembrando que já havia até uma festa de comemoração programada para o sábado. ''Tínhamos uma missão de risco'', admite Deliberador.
Apesar do susto, a equipe se diz disposta a dar continuidade ao projeto batizado de Unosat (Undergraduate Orbital Student Satellite), que vem sendo desenvolvido há mais de dois anos. Uma vez no espaço, o nanossatélite (satélite pequeno) de oito quilos poderia servir como localizador de veículos, pessoas e animais, além de ser usado em telecomunicações.
Considerando o custo do protótipo em si, mais as viagens da equipe e outras despesas, o investimento da Unopar ultrapassa R$ 50 mil. O trabalho e o dinheiro empregado até agora não foram perdidos. Um clone do nanossatélite foi construído, podendo ser lançado em outro veículo. A equipe não descarta a possibilidade de fazer parceria com outro país, embora ainda dê preferência ao Brasil.
''A maior perda foram os nossos amigos que estavam na torre. Se existem heróis no programa espacial brasileiro são aquelas pessoas que perderam a vida trabalhando'', diz Stancato.