Londrina tem cerca de 300 pontos de descarte irregular de lixo de onde aproximadamente 5,4 mil toneladas de resíduos são retiradas todos os meses pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU).
Além dos danos ao meio ambiente e do risco de proliferação de doenças, sendo a dengue a principal delas, o despejo irregular de lixo tem um alto custo para o município, em torno de R$ 200 mil mensais. A falta de consciência de quem descarta seu lixo em terrenos baldios é bem maior do que a capacidade de fiscalização da CMTU e quem sofre as consequências é a vizinhança, que se vê obrigada a conviver com a sujeira e o mau cheiro.
Nesta terça-feira (20), cerca de 60 alunos do sexto ano do Colégio Estadual Ana Molina Garcia, na Vila Ricardo (zona leste), fizeram um protesto para chamar a atenção da comunidade para uma área pública na Rua Bauxita que tornou-se ponto de descarte irregular e recebe desde resíduos domésticos até aqueles provenientes de grandes geradores.
Leia mais:
'Dor sem fim', afirma mãe de jovem londrinense vítima do Maníaco do Parque
Arte Total leva a diversidade cultural de Londrina à Associação Médica de Londrina
Projeto 'Orquestrando o Futuro' reúne cerca de 1.200 alunos no Ouro Verde
Hospitais de Londrina recebem concertos natalinos na próxima semana
Somente neste ano, a CMTU já fez duas limpezas na área. Na primeira, em janeiro, foram necessários 16 caminhões caçamba para recolher todo o lixo e entulho. Na segunda, em maio, foram retirados mais seis caminhões lotados de resíduos. Menos de cinco meses depois, o lixo já começa a se acumular novamente.
"Faz 35 anos que eu moro aqui e há 35 anos a gente tenta uma solução para esse problema do entulho, mas está difícil", reclamou a dona de casa Jucéia de Oliveira Rodrigues Adão. Segundo ela, o descarte não tem hora para acontecer. "Tem caminhão de supermercado que vem aqui e despeja frutas e verduras podres. Eles vêm de dia e de noite e deixam aqui todo tipo de lixo, mas a falta de iluminação facilita."
A dona de casa Andréa Cristina Santana disse que moradores até tentam inibir o descarte dos resíduos, mas desistem por medo de represálias. "A gente chega a ver o pessoal jogando o lixo, alguns moradores até vão atrás, mas são ameaçados. Aqui tem todo tipo de lixo. Jogam pneus e até animais mortos", contou. "A gente se preocupa com a dengue, que é um problema. Já teve bastante gente com dengue aqui no bairro", disse a dona de casa Karina Sales.
INTERVENÇÃO
A ideia do protesto foi do professor de artes Marcos Costa, que alia o ensino das diversas linguagens artísticas à formação de cidadãos. "Estamos trabalhando com performances e decidimos fazer essa intervenção, já que os alunos moram no entorno dessa área que é usada pela população como depósito de lixo. E não afeta só a nossa escola. São quatro escolas aqui na região. Queremos formar pessoas conscientes", disse o professor. "Quem joga lixo onde não pode demonstra muita falta de educação e respeito", observou um aluno de 12 anos. "Moro no (Jardim) Santa Fé. Perto de casa tem um rio e a gente sempre vê o rio cheio de lixo", lamentou uma aluna de 13 anos.
A CMTU diz que tenta identificar os responsáveis pelo descarte irregular de lixo na Rua Bauxita e em outros pontos da cidade, mas admite que o trabalho não é fácil. A companhia conta com apenas três funcionários para fiscalizar a cidade toda. Em todo o ano passado, foram realizadas 56 autuações, somando cerca de R$ 23,5 mil.
PEV
O município mantém dois pontos de entrega voluntária (PEV), um no Jardim Vista Bela (zona norte) e outro no Jardim Califórnia (zona leste), próximo à Rua Bauxita. Nestes locais, os resíduos podem ser descartados sem custo, mas segundo o gerente de Limpeza Urbana da CMTU, Álvaro do Nascimento, muitas pessoas ainda preferem fazer o descarte irregular. "Tem o morador que joga o lixo em áreas públicas sem saber que é crime ambiental e tem os grandes geradores que fazem o descarte irregular para não ter de pagar as taxas cobradas pelas empresas que recebem e dão a destinação adequada aos resíduos", destacou Nascimento. No site da CMTU (www.cmtuld.com.br) também há uma lista dos locais aptos a receberem cada tipo de material reciclável.
Em meio ao lixo depositado no terreno da Rua Bauxita, há partes de manequins de loja e restos de tecido, provavelmente descartados por alguma confecção. Para obter o alvará, toda empresa é obrigada a entregar à Secretaria Municipal do Ambiente (Sema) o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos no qual consta o volume de resíduos gerados.
Anualmente, para conseguir a renovação do alvará, a empresa deve apresentar certificados que comprovem a destinação correta do lixo produzido por ela. Mesmo assim, segundo o assessor da Sema Gerson Galdino, ainda há grandes geradores que recorrem ao descarte irregular para fugir dos custos. "Uma pequena parte acaba fazendo o errado."