* Por Ana Beatriz B. da Silva e Mirian Pirolo
No início do século passado, Freud, pai da psicanálise, afirmou que "Toda pessoa só é normal na média". Parece uma grande "loucura", no entanto Freud e todas as pessoas do planeta têm algo em comum: nenhum de nós possui um cérebro perfeito.
Todos nós possuímos deficiências ou falhas mentais, sejam inatas ou desenvolvidas através da nossa experiência de vida. É claro que uns apresentam "falhas" mais sérias (doenças mentais), outros menos (traços de personalidade).
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Hoje a neurociência está provando essa mesma hipótese: inexiste uma pessoa "normal". Entenda-se como "normal" o indivíduo possuidor de um cérebro capaz de produzir todos os neurotransmissores ("combustíveis cerebrais") em quantidades exatas, obtendo assim o máximo desempenho desse "motor" e em todas as suas áreas.
É só olharmos ao nosso redor que facilmente constataremos essa realidade. Quem não conhece alguém genial na criação de complexos programas de computadores e projetos inovadores de engenharia que, por outro lado, são desorganizados ou sistemáticos e apresentam grandes dificuldades em seus relacionamentos sociais e afetivos? Quem não conhece um excelente estudante ou trabalhador, mas que na hora H de uma reunião importante ou palestra dá um "branco" total? Tudo que estava na ponta da língua, desaparece como por encanto simplesmente porque foi dominado por um medo absurdo e desmedido.
Sem contar com as pessoas esteticamente perfeitas, bem sucedidas, abençoadas por Deus, que se expõem de maneira magnífica nos meios de comunicação, mas que sofrem de anorexia, bulimia, depressão, dependência química ou sentem um enorme vazio interior.
Com o advento do mapeamento cerebral (tomografias, ressonâncias) podemos observar o cérebro em ação, processando nossos pensamentos e emoções. Podemos concluir que um cérebro perfeito é uma impossibilidade humana. Todos eles têm seus pontos fortes (talentos, dons ou aptidões) e seus pontos limitantes (inabilidades, inaptidões ou "fraquezas") que, com o tempo e com empenho (que muitas vezes envolve tratamento) aprendemos a administrar em nosso próprio benefício.
Outro aspecto que reitera a imperfeição do cérebro humano é no que tange a sua idade. Isso mesmo! Para quem não sabe nosso querido e poderoso cérebro não passa de um "bebê" na longa história da evolução das espécies. Ele completou 100 mil anos há pouco tempo.
Isso, a princípio, parece muito. Mas se compararmos aos 160 milhões de anos que os dinossauros habitaram nosso planeta, veremos que o nosso cérebro começa a dar seus primeiros passos na história evolucionária. Por isso temos de considerá-lo uma obra em andamento que, com certeza, será capaz de desenvolver novas funções adaptativas de caráter positivo, que nos tornarão mais eficientes em transcender dificuldades, limites ou mesmo impossibilidades atuais.
E agora? Quem terá coragem de atirar a primeira pedra? Quem for perfeito pode começar!
*Ana Beatriz é médica psiquiatra e escritora. Professora Honoris Causa da UniFMU (SP), diretora das clínicas Medicina do Comportamento (RJ e SP
*Mirian Pirolo é farmacêutica-bioquímica e assessora literária da clínica Medicina do Comportamento (RJ). Mais informações no endereço eletrônico www.medicinadocomportamento.com.br