Com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 800 bilhões e uma população de 65,3 milhões de pessoas, o governo do Irã vem conseguindo administrar avanços econômicos e o desenvolvimento nuclear, mesmo diante das restrições de comércio impostas pelos Estados Unidos. O fato novo é o efeito da crise internacional que derrubou os preços do petróleo, uma das principais fontes de renda do país.
O crescimento, que vinha em ritmo médio de 5% ao ano desde o fim da guerra com o Iraque nos anos 80, deve ser muito baixo em 2009. As relações de comércio com o Brasil , por exemplo, que eram da ordem de US$ 2 bilhões, devem fechar em US$ 1 bilhão este ano, segundo o ministro das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki.
Cerca de 70% dessa população descendente de persas, com idade inferior a 35 anos, quer usufruir, no entanto, do crescimento com mais empregos, da ampliação de renda e do consumo de bens. Parte desse desejo foi manifestada nas eleições ocorridas em junho de 2009. Os partidos de oposição interpretaram esse sentimento ao defender reformas pontuais, sem que nenhum deles questionasse os princípios do islamismo, segundo apurou a Agência Brasil.
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No Irã, não há impostos sobre os alimentos, mas o subsídio oficial concedidos nas contas de luz, água, gás e telefone deve ser extinto nos próximos meses. O país convive com inflação moderada, que neste ano deve ficar em torno de 20%. Algumas moedas em circulação praticamente não têm valor. São necessários RIs 9,550 mil (moeda iraniana que tem nome equivalente a reais) para comprar um US$ 1 dólar. Com RIs 45,000 mil é possível comer uma pizza pequena e tomar uma coca-cola em uma lanchonete.
O aluguel de um bom apartamento de dois quartos, na zona nobre de Teerã, é de US$ 600,00 ao mês. A renda média dos assalariados de classe média fica em torno de USS 1,5 mil ao mês e o salário mínimo é de US$ 300,00.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad, que saiu das urnas com 24 milhões de votos, 10 milhões a mais do que seu adversário mais próximo, Mir Hossein Moussavi, vem enfrentando a oposição nas ruas de Teerã, uma cidade de 12 milhões de habitantes que lembra São Paulo dos anos 70.
Uma dessas manifestações foi observada pela Agência Brasil. Cerca de mil manifestantes, tendo à frente o líder da oposição Mehdi Karroubi, invadiram as instalações do Centro de Eventos Mosala Eman Khomeini, onde mais de 1,5 mil jornalistas do Irã e de 35 países participavam de um encontro de imprensa e agências de notícias.
Aos gritos de "abaixo a repressão" e "morte ao ditador", referindo-se ao atual presidente, os manifestantes protestaram diante dos principais veículos do Irã, com a Agência Fars. Eles chegaram a invadir o estande da Rússia em protesto ao apoio daquele país ao Irã. O jornalista russo Mikhail Guser foi levado às pressas ao Hotel Laleh e só retornou ao evento no dia seguinte.
Uma segunda manifestação, com cerca de 300 pessoas, ocorreu dois dias depois na área externa do Mosala Eman Khomeini. Um grupo de mulheres cobrou do governo a localização de parentes presos. Uma autoridade iraniana, que não quis se identificar, admitiu que foram feitas muitas prisões durante as manifestações contra os resultados das eleições. Ele não soube dizer se havia pessoas ainda presas. O brasileiro Anderson Silva, que estava na manifestação, foi um dos presos. Passou uma noite na prisão e hoje vive na Turquia.
O ministro da Cultura e Orientação Islâmica do país, Mohammad Hosseini, afirmou que as manifestações observadas pelos jornalistas eram uma evidência de que há democracia e liberdade de expressão no país. "O que há é que os europeus e estrangeiros querem impor a sua cultura. O Irã está frustrando essa invasão cultural", disse Hosseini aos jornalistas estrangeiros reunidos em Teerã.
O país tem um índice de analfabetismo entre 2% e 3%. Cerca de 18 milhões de iranianos estão na universidade e 45% da população têm curso superior. O Brasil tem 10% da população acima de 15 anos ainda não alfabetizada e 4,88 milhões de universitários.
Hosseini disse também que, ao contrário dos americanos que querem a guerra, o Irã luta pela paz, a prosperidade, a defesa de seus valores culturais e busca pontos comuns que possam uni-lo a outros países.
O Brasil é um dos países com os quais o Irã quer maior aproximação econômica e cultural. Para o vice-ministro de Assuntos da América, Alireza Salari, como seu país não tem relações diplomáticas com os Estados Unidos, o Brasil passa a ser o interlocutor preferido no continente. "Temos economias complementares. Se conseguirmos estabelecer laços duradouros, isso trará benefícios para os nossos países", disse Salari.
O Irã quer oferecer oportunidade de negócios a empresas privadas e públicas do Brasil para maior expansão de sua economia e espera o mesmo das autoridades brasileiras. A meta da área diplomática iraniana é elevar, em cinco anos, as relações de comércio do valor atual de US$ 1 bilhão para US$ 15 bilhões em áreas como a produção de gás – por ser o vice-líder mundial – e de produtos petroquímicos e adubos.
O desenvolvimento da pesquisa na produção de energia nuclear é o tema que a diplomacia dos dois países mais vem trabalhando pelo interesse comum. Os iranianos conseguiram grandes avanços na produção de medicamentos, a partir do uso da pesquisa nuclear. Segundo Salari, hoje o Irã produz 80% dos medicamentos de que necessita e desenvolveu quatro remédios inéditos. Um deles é para combater o diabetes e os outros contra o câncer. O Brasil poderá importar esses medicamentos ou adquirir a tecnologia.
Leia mais aqui: Imprensa iraniana se divide entre a defesa da cultura, o islamismo e a liberdade de expressão
*O repórter da Agência Brasil, Ivanir José Bortot, viajou a convite do governo iraniano