Com o objetivo de avaliar como o professor brasileiro se relaciona com o trabalho, os alunos e a escola (e de que forma eles enxergam o futuro da Educação), a Fundação Victor Civita realizou, por meio do Ibope, uma pesquisa quantitativa com 500 educadores da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio da rede pública das principais capitais brasileiras. Além de traçar um perfil do professor brasileiro, a pesquisa apontou os principais motivos de insatisfação, as dificuldades encontradas em sala de aula e as perspectivas para o futuro da profissão e da Educação no País.
Na opinião dos educadores, o estímulo da família e a postura do estudante são os maiores influenciadores na qualidade do ensino brasileiro, ficando à frente, inclusive, do governo. Para 26% dos entrevistados, o professor é o principal responsável pela qualidade da Educação. A família ocupa o segundo lugar no ranking, com 20% das indicações, e os alunos aparecem em terceiro lugar, com 18%. O governo está em quinto lugar e é citado somente por 12% dos entrevistados.
Quando questionados sobre os principais problemas encontrados em sala de aula, 46% responderam que a falta de disciplina é o maior deles e 34%, que isso é culpa da ausência de motivação dos alunos. Para 31%, a pouca participação dos pais é a maior dificuldade. As carências de infra-estrutura aparecem em 5º lugar, com 18%. A violência e o comércio de drogas também foram mencionadas, mas só no final do ranking, respectivamente com 9% e 5% das citações.
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A instabilidade financeira é um dos principais fatores que levam ao descontentamento da categoria. Apenas 32% dos professores afirmam tê-la conquistado, enquanto 90% consideram essa condição fundamental para ter qualidade de vida. Segundo David Saad, diretor-executivo da Fundação Victor Civita, a má qualidade da Educação brasileira e a insatisfação do professor não estão relacionadas apenas à baixa remuneração. "Além do salário, as condições de trabalho também precisam melhorar. Porém, o professor tem de entender sua responsabilidade no processo de aprendizagem dos alunos".
A maioria dos entrevistados (90%) afirma ter boa didática de ensino e 64% consideram sua formação inicial excelente ou muito boa. Mais de 70% dos educadores estudaram em escola pública até ingressar na faculdade, enquanto 40% cursaram ensino superior em instituição pública. Ainda segundo a pesquisa, 48% acreditam que os programas de formação continuada interferem positivamente no ensino e 80% dizem já ter participado de cursos desse tipo. Porém, nem por isso eles se sentem mais preparados para a rotina escolar: 49% reconhecem que não estão prontos para enfrentar a realidade da sala de aula.
Hoje, só 1% acredita que a qualidade da Educação brasileira é excelente e 23% a classificam como ruim ou péssima. Para os próximos 10 anos, mudanças positivas são esperadas para 57% dos professores entrevistados. O que vai mudar? Segundo a pesquisa, haverá investimentos em cursos de capacitação, melhores salários, escolas com melhor infra-estrutura, maior participação da família, maior participação do governo e maior acesso às escolas. Mudanças negativas são esperadas por 38% dos entrevistados, que apontam como razões a degradação do ensino público, a piora na qualidade do ensino, a desvalorização dos professores e a diminuição de verbas públicas para a Educação.
O dia-a-dia do professor
* Em média, o professor da rede pública gasta 59 horas por semana em atividades relacionadas ao trabalho. Deste total, praticamente 50% correspondem a horas em sala de aula.
* Diariamente, cerca de 3 horas são gastas para ir de casa à escola ou em deslocamentos entre as escolas onde lecionam.
* 36% dos professores têm mais de 300 alunos no total de suas turmas, o que significa que cada professor pode dispensar, em média, 13 minutos por semana ou 3 minutos por dia para cada aluno.
* 25% dos professores têm turmas com mais de 40 alunos.
* Para 64% dos professores, o número ideal de alunos por sala é entre 21 e 30.
* Em média, um professor dá aula para sete turmas e possui 266 alunos.
Sobre a profissão
* 21% estão totalmente satisfeitos com a profissão.
* 37% estão satisfeitos em relação à estabilidade e à flexibilidade no planejamento das aulas.
* 21% estão satisfeitos com o fato de trabalharem na rede pública.
* 34% estão insatisfeitos com os benefícios e 29% com a remuneração.
* O amor à profissão é a principal motivação para 53% dos professores.
* 83% da amostra avaliam o ofício de professor como extremamente importante para a sociedade.
* Para um terço dos professores, a profissão não é valorizada pela sociedade.
Outros dados
* De acordo com 74% dos professores, os materiais fornecidos pelo governo não chegam na hora certa.
* 41% dos professores partilham princípios religiosos em sala de aula, sendo que 53% declaram-se católicos, 16% evangélicos e 12% espíritas.
* 26% declararam que seus alunos não sabem ler/escrever.
* Quase um quarto dos professores diz que a escola está fazendo o papel da família.
* 74% dos professores são contra a progressão continuada.
(Com informações são da FBS Comunicações)