Em protesto contra supostos maus-tratos, cerca de 6.741 presidiários vinculados à facção criminosa CV (Comando Vermelho) entraram em greve de fome por tempo indeterminado.
A greve foi deflagrada na manhã de ontem. Em represália, o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, suspendeu as visitas e fechou as cantinas.
"Já que é greve de fome, é greve de visita, é greve de tudo", afirmou ele.
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Por ordem do secretário, as refeições não estão sendo preparadas nas cozinhas dos presídios desde o início da greve. Segundo ele, é uma forma de economizar recursos do Estado, já que os presos não estão comendo.
A secretaria divulgou que sete presídios controlados pelo CV aderiram à greve. Cinco ficam no complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio: Bangu 3, Bangu 4, Bangu 5, Moniz Sodré e Vicente Piragibe.
Os outros dois presídios (Edgar Costa e Vicente Ferreira Neto) funcionam em Niterói (cidade a 15 km do Rio).
No presídio Ary Franco, em Água Santa (zona norte), os presos instalados na ala dominada pelo CV também deixaram de comer. O restante dos detentos não aderiu à greve de fome.
Os presos de Bangu 1 (penitenciária de segurança máxima) não participam da greve. Segundo o secretário, os líderes do CV encarcerados em Bangu 1, como Elias Pereira da Silva (Elias Maluco), Márcio Nepomuceno (Marcinho VP) e Isaías do Borel (Isaías da Costa), estão isolados e não tiveram como participar do movimento.
Pereira dos Santos disse que os presos não apresentaram reivindicações à Secretaria de Administração Penitenciária.
Panfletos
Na madrugada de hoje, dois adolescentes que moram no complexo de favelas do Alemão (zona norte) foram presos sob a acusação de estar colando panfletos em muros do Tribunal de Justiça, no centro. O Alemão é reduto do CV.
Os menores, cujos nomes não foram revelados, disseram ter recebido os panfletos e R$ 20 de homens que estavam em um Monza.
No panfleto, supostamente preparado por líderes do CV, o governo estadual é acusado de maltratar os presos, que, em protesto, decidiram organizar a greve de fome.
De acordo com o panfleto, as visitas estariam sendo revistadas de maneira rigorosa. Os presos também estariam reclamando da obrigação de usar uniformes.
"Não estou preocupado. Ficaria preocupado se as lideranças estivessem satisfeitas", disse o secretário.
Armas
A greve foi deflagrada depois que, ontem, agentes penitenciários apreenderam dois fuzis, duas pistolas e uma granada dentro de um frigorífico em Bangu 3. Durante a apreensão, quatro presos ficaram feridos, supostamente atingidos por balas de borracha.
O secretário confirmou que houve feridos, encaminhados ao IML (Instituto Médico Legal) para a realização de exames.
"Vai tudo ser apurado, mas, enquanto eles estão levando tiros de borracha, meus diretores estão levando tiros de chumbo e morrendo", disse ele, em referência aos assassinatos do diretor de Bangu 3, Abel Silvério de Aguiar, há duas semanas, e do chefe de segurança do complexo de Bangu, Paulo Roberto Rocha, em julho.
Informações Folha Online