Após 104 anos de fundação e mais de 20 mil casamentos civis heterossexuais contabilizados, um cartório no bairro Portão, em Curitiba, registrou uma experiência "diferente" na manhã desta quarta-feira (24). E que deve se tornar mais frequente a partir de agora. Testemunhada por familiares e amigos, a união do administrador de empresas José Renato Pereira Martinelli, 34, com o publicitário Angelo Wolf, 32, foi a primeira entre homens já formalizada em uma cerimônia na capital paranaense.
O feito histórico se tornou possível graças a uma decisão do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), de 26 de março deste ano, que autorizou pessoas do mesmo sexo a se casarem no Estado. A medida é baseada no artigo 1.525 da Lei Federal nº 10.406/2002, a mesma que fez o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparar, em maio de 2011, as uniões estáveis homoafetivas às existentes entre casais heterossexuais.
"Representa uma mudança da sociedade, no sentido de aceitação mesmo. Se duas pessoas héteros que se amam podem, por que dois homens não poderiam (casar)?", questionou Angelo. "Vai chegar um dia em que você não vai precisar mais chegar num lugar e dizer ‘eu sou gay’, assim como você não precisa chegar e dizer ‘eu sou hétero’. Demora um tempo para as coisas serem vistas como normais", completou Renato.
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O casal se conheceu em 1999, pela internet, por meio do programa de comunicação instantânea ICQ. Naquela época, o administrador de empresas morava em Paranaguá, no litoral do Estado, e o publicitário em Curitiba. Na semana seguinte, os dois começaram a namorar e, em 2000, passaram a morar juntos.
Para Kátia Pereira Martinelli, mãe de Renato, o casamento nada mais é do que a formalização do amor. "É indescritível o que a gente sente ao ver os sorrisos, a alegria deles. É um momento muito feliz, muito importante, uma conquista. Espero que muitas pessoas possam ter a mesma oportunidade que eles. Foi difícil, mas dizem que o que é mais difícil é mais gostoso..."
As funcionárias públicas municipais Maria Verônica Mees Manzi e Maísa Teresa Manzi, que em agosto do ano passado se tornaram as primeiras mulheres da capital a converter uma união estável homossexual em casamento, também presenciaram a solenidade. "A gente abriu caminho para outros casais, como os meninos. Que bom que Curitiba conseguiu se abrir um pouco mais. As pessoas têm de parar de ter preconceito umas com as outras. Cada um tem de viver sua própria vida", disse Verônica.
Procura - A tebeliã e registradora Caroline Ferri, titular do Cartório do Portão, afirmou que outros três casamentos civis homoafetivos devem ocorrer no local dentro dos próximos 30 dias. A procura, segundo ela, tem aumentado bastante.
"As pessoas antes tinham muito receio de como seria a resposta da Justiça. Quando elas entendem que serão tratadas com respeito e dignidade, a situação muda. É preciso que todos saibam que os registradores civis do Paraná estão abertos para formalizar uniões civis estáveis ou casamentos (entre pessoas do mesmo sexo), como preferirem".