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Crianças que fazem cinema

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
10 jan 2001 às 11:07

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Sem o aparente descompromisso glauberiano, onde valia a tese de "uma idéia na cabeça e uma câmera na mão", estudantes da 8ª série de escolas municipais da periferia de Curitiba pela primeira vez tiveram contato com o complexo e mágico mundo do cinema. Escreveram roteiros, dirigiram, representaram e possivelmente estarão com seus sete curta-metragens no próximo Festival de Cinema e Vídeo e DCine de Curitiba, que acontecerá em maio.

Há um mês os filmes que eles realizaram chegaram à tela do Cine Ritz, numa única sessão com pouco destaque na imprensa. No entanto, entre os espectadores, estava a atenta Tizuca Yamasaki. Além das possibilidades de constar do festival, há outros planos para divulgação dos trabalhos dos estudantes, e, mais que isso, para mostrar como a arte altera beneficamente o comportamento dos jovens.

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Quando a professora Marilda Aparecida Menegazzo, gerente de Projetos Educacionais, da Secretaria Municipal de Educação, lançou o projeto OfiCinema, jamais iria supor que fosse resultar na criação de curtas-metragens. A proposta contemplava cerca de 1.400 alunos que teriam noções gerais de cinema, desde seus primórdios até os dias atuais, abrangendo desde os diversos gêneros dos filmes aos múltiplos caminhos da vasta indústria que ele representa.

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As aulas foram dadas pelo produtor Márcio Tadeu da Costa, no Cine Guarani (uma das salas da Fundação Cultural de Curitiba). Quando o assunto chegou à criação de roteiros, o entusiasmo foi tanto que "resolvemos partir para as filmagens", lembra Marilda Menegazzo. Os estudantes tomaram a si os compromissos de escrever os enredos, procurar locações, negociar espaço com autoridades, cuidar dos figurinos, montar todo o cronograma de realização.

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As imagens estampadas nas telas mostram um lado da conquista dos jovens; o outro lado foi a transformação vivida por eles. "Mudou a relação deles com os professores, tornaram-se mais interessados nas aulas, aumentou o respeito entre eles e a autocrítica. Aprenderam a se virar", detalha Marilda.


A OfiCinema ocupou praticamente todo o ano letivo de 2000, como atividade extra-curricular. O êxito alcançado propiciará a criação de novos projetos, entre eles o teatro. "A arte é uma saída para a juventude", afirma a professora sobre a falta de perspectivas para as faixas mais carentes. A realização dos filmes mostrou que os sonhos podem se tornar realidade. "Tivemos roteiros belíssimos", elogia.

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Os temas trabalhados pelas equipes são recorrentes ao meio em que vivem, mas que pela singeleza são universais. Um dos enredos conta a história de uma garota cujo noivo morre misteriosamente. Tempos depois a garota se apaixona por outro rapaz que tem um fim semelhante. No desfecho da trama descobre-se que as mortes eram cuidadosamente planejadas por uma amiga apaixonada pela moça.


Sete escolas estão representadas nestes filmes. Cada equipe contou com média de 15 alunos envolvidos diretamente na produção, seja na frente ou atrás das câmeras. Roque Baido Júnior, um dos atores, confessou: "Nunca sonhei em atuar em filme e senti-me no auge da fama". Franceline Dias considerou que foi uma experiência extenuante, mas "o resultado foi gratificante, por ver nosso trabalho tão bem feito e em uma tela de cinema". Leandro Grein, por sua vez, detectou mudanças em si mesmo: perdeu a timidez e ainda participou "de algo novo, saindo da rotina de uma escola".

A simpatia do secretário de Educação do município, Paulo Afonso Schmidt, pelo projeto é um ponto a favor para sua continuidade, confidencia Marilda. Ele estava no Cine Ritz na noite da avant-premiere dos curtas, em dezembro. Espetáculo à parte, porém, era ver a garotada com "os olhos brilhando". Foi o melhor da festa, segundo a idealizadora do OfiCinema, pois "a gente pensa em tirá-los das quatro paredes da escola, e ensiná-los a ter maior conhecimento da vida, de saber se sair melhor neste mundo".


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