O cineasta Sylvio Back impera soberano nas noites do Museu da Imagem e do Som. Até o dia 27 as sessões das 19 horas do museu serão ocupadas por seus filmes: ficção e documentários, longas e curtas. No dia 28 o artista autografa "Docontaminado", nome com que batizou o Caderno do MIS, edição de número 24. O livreto reúne três ensaios escritos por ele, onde faz uma reflexão sobre o documentário brasileiro.
A atenção dispensada pelo MIS ao homem de cinema há tempos radicado no Rio de Janeiro talvez amenize seu discurso de homem incompreendido e sem o devido respeito, como costuma queixar-se nas entrevistas. Seja como for há uma permanente ligação entre a cidade e o artista, prova de que os resmungos do cineasta nem sempre condizem com a realidade.
Recentemente sua filmografia foi parar numa coleção da Vídeo Cultura, um dos segmentos da TV Cultura de São Paulo. A Cinemateca Sylvio Back, agora acessível ao público interessado em adquiri-la, é que estará sendo exibida até o final do MIS. As sessões têm entrada franca.
O cartaz de ontem à noite foi "A Guerra dos Pelados", produção de 1971, que rendeu ao autor diversos prêmios, entre eles o Prêmio de Qualidade, do Instituto Nacional do Cinema, e o "Governador de São Paulo", além de três troféus para o elenco, no I Festival de Cinema de Guarujá e a seleção para representar o Brasil no XX Festival de Cinema de Berlim, em 1972. Com Atila Iorio, Jofre Soares e Sale Wolokita.
"A Guerra dos Pelados" enfoca o histórico episódio ocorrido em terras catarinenses nos anos de 1912 e 1916 – a Guerra do Contestado. A concessão de terras para uma companhia de estrada de ferro estrangeira e o reduto messiânico de posseiros foram elementos explosivos que deram origem a um momento sanguinário nos campos onde hoje se localiza o Estado de Santa Catarina.
Hoje tem "Aleluia Gretchen" (1976), o filme mais premiado de 1977. Sylvio Back levou o prêmios Air France e Golfinho de Ouro, como melhor diretor, o mesmo acontecendo com Miriam Pires na categoria de Melhor Atriz. Trata-se da saga de uma família de imigrantes alemães fugitiva do nazismo que vem bater seus costados numa cidade no Sul do Brasil. Ao aproximar-se a II Guerra Mundial, e mesmo durante seu transcorrer, os membros dessa família dividem-se entre a Quinta Coluna e o Integralismo. Essas simpatias iriam repercutir décadas mais tarde em sua própria história.
Dia 20 tem o documentário "A Revolução de 30", rodado em 1980. É um filme-colagem onde se misturam documentários e ficção dos anos 20. O ápice das imagens são cenas inéditas da Revolução de 1930. A vida está ali com a estupefação, os risos, ironias, achados anedóticos – enfim, condimentos que fazem a diversão do diretor.
Um novo documentário poderá ser visto dia 21: "República Guarani" (1982). Sylvio Back levou suas câmeras para o Sul tentando resgatar o que ainda havia da história dos jesuítas que durante 150 anos reinaram absolutos numa vasta área dominada por índios guaranis. Entre 1610 e 1767 foi criada ali uma espécie de república onde se harmonizavam a religião, a política, o bem comum da sociedade e até mesmo a arquitetura. Passados 350 anos é possível ainda identificar uma certa nostalgia daqueles tempos.
As famosas corredeiras do Rio Paraná, conhecidas por Sete Quedas, deixaram de existir em fins de 1982. Em seu lugar criou-se um imenso lago de 200 km quadrados. "7 Quedas", com roteiro e texto de Back, mostra esse espetáculo e sua gente que vivia por ali. O filme – curta-metragem de dez minutos – será mostrado no dia 24, ao lado de "Guerra do Brasil".
"Guerra do Brasil", produção de 1987, mistura ficção e realidade num relato sobre a Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870. O armistício envolveu o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e desse embate foram vitimadas cerca de 1 milhão de pessoas. É o maior e mais sangrento conflito armado do século. "'Guerra do Brasil', ao refrescar a memória nacional, tão marcada pelo compromisso e a amnésia, apenas põe o dedo numa feriada que ainda levará algumas gerações para cicatrizar", escreveu o diretor na época da realização do filme.
No dia 25 a sessão do MIS exibirá três títulos: os curtas "A Araucária: Memória da Extinção", de 1981 e "A Babel da Luz", de 1982; e o longa "Rádio Auriverde", de 1981, talvez o mais polêmico de todos os filmes de Sylvio Back. Pelo menos foi o que propiciou a maior chiadeira entre seus lançamentos.
Em "Memória da Extinção" o enfoque recai sobre o pinheiro; "A Babel da Luz" é um sensível trabalho sobre a poeta Helena Kolody e "Rádio Auriverde" coloca na tela Carmem Miranda e os pracinhas nos campos italianos (1944-45). Este fita gerou críticas contundentes dos antigos combatentes que fizeram até passeata contra o filme.
Dia 26 tem "Zweig: A Morte em Cena", produção de 1995 que traz à tona a morte do pensador austríaco Stefan Zweig e de sua mulher Lotte. Foram encontrados mortos, depois de tomarem veneno no verão de 42, em Petrópolis. O programa da noite se completa com "Yndio do brasil" (1995), novamente uma colagem de dezenas de filmes nacionais e estrangeiros, revelando como o cinema vê e ouve o índio brasileiro, desde a primeira tomada que se tem notícia: em 1912.
"É impossível revisitar o passado recente do País sem estabelecer uma interação com seus arquivos cinematográficos – por mais que esse patrimônio seja comprometido política e ideologicamente", alfinetou o diretor em sua justificativa.
Também um programa duplo no dia 27: "Vida e Sangue de Polaco" (1982) e "Auto-Retrato de Bakun" (1984). O primeiro, refaz todo o complexo cultural e emocional dos poloneses desde sua chegada ao País, em 1869, até a situação atual de seus descendentes. Já o auto-retrato pincelado do maior pintor paranaense é um trabalho instigante: para falar da vida, da obra e da morte de Bakun, que se enforcou no quintal da casa, em 1963 (tinha 54 anos), Sylvio Back vasculhou as lembranças dos amigos e parentes; também participou de sessões espíritas, tentando varar os mistérios.
"Cinemateca Sylvio Back": mostra dos trabalhos do cineasta Sylvio Back, no Museu da Imagem e do Som (Rua Barão do Rio Branco, 395, em Curitiba. Telefone 232-9113. Até dia 27, com sessões às 19 horas. Entrada franca. Dia 28 Back estará presente ao lançamento do Cadernos do MIS nº 24, intitulado "Docontaminado", contendo três ensaios sobre o documentário brasileiro, publicado pelo cineasta na imprensa nacional.
A atenção dispensada pelo MIS ao homem de cinema há tempos radicado no Rio de Janeiro talvez amenize seu discurso de homem incompreendido e sem o devido respeito, como costuma queixar-se nas entrevistas. Seja como for há uma permanente ligação entre a cidade e o artista, prova de que os resmungos do cineasta nem sempre condizem com a realidade.
Recentemente sua filmografia foi parar numa coleção da Vídeo Cultura, um dos segmentos da TV Cultura de São Paulo. A Cinemateca Sylvio Back, agora acessível ao público interessado em adquiri-la, é que estará sendo exibida até o final do MIS. As sessões têm entrada franca.
O cartaz de ontem à noite foi "A Guerra dos Pelados", produção de 1971, que rendeu ao autor diversos prêmios, entre eles o Prêmio de Qualidade, do Instituto Nacional do Cinema, e o "Governador de São Paulo", além de três troféus para o elenco, no I Festival de Cinema de Guarujá e a seleção para representar o Brasil no XX Festival de Cinema de Berlim, em 1972. Com Atila Iorio, Jofre Soares e Sale Wolokita.
"A Guerra dos Pelados" enfoca o histórico episódio ocorrido em terras catarinenses nos anos de 1912 e 1916 – a Guerra do Contestado. A concessão de terras para uma companhia de estrada de ferro estrangeira e o reduto messiânico de posseiros foram elementos explosivos que deram origem a um momento sanguinário nos campos onde hoje se localiza o Estado de Santa Catarina.
Hoje tem "Aleluia Gretchen" (1976), o filme mais premiado de 1977. Sylvio Back levou o prêmios Air France e Golfinho de Ouro, como melhor diretor, o mesmo acontecendo com Miriam Pires na categoria de Melhor Atriz. Trata-se da saga de uma família de imigrantes alemães fugitiva do nazismo que vem bater seus costados numa cidade no Sul do Brasil. Ao aproximar-se a II Guerra Mundial, e mesmo durante seu transcorrer, os membros dessa família dividem-se entre a Quinta Coluna e o Integralismo. Essas simpatias iriam repercutir décadas mais tarde em sua própria história.
Dia 20 tem o documentário "A Revolução de 30", rodado em 1980. É um filme-colagem onde se misturam documentários e ficção dos anos 20. O ápice das imagens são cenas inéditas da Revolução de 1930. A vida está ali com a estupefação, os risos, ironias, achados anedóticos – enfim, condimentos que fazem a diversão do diretor.
Um novo documentário poderá ser visto dia 21: "República Guarani" (1982). Sylvio Back levou suas câmeras para o Sul tentando resgatar o que ainda havia da história dos jesuítas que durante 150 anos reinaram absolutos numa vasta área dominada por índios guaranis. Entre 1610 e 1767 foi criada ali uma espécie de república onde se harmonizavam a religião, a política, o bem comum da sociedade e até mesmo a arquitetura. Passados 350 anos é possível ainda identificar uma certa nostalgia daqueles tempos.
As famosas corredeiras do Rio Paraná, conhecidas por Sete Quedas, deixaram de existir em fins de 1982. Em seu lugar criou-se um imenso lago de 200 km quadrados. "7 Quedas", com roteiro e texto de Back, mostra esse espetáculo e sua gente que vivia por ali. O filme – curta-metragem de dez minutos – será mostrado no dia 24, ao lado de "Guerra do Brasil".
"Guerra do Brasil", produção de 1987, mistura ficção e realidade num relato sobre a Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870. O armistício envolveu o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e desse embate foram vitimadas cerca de 1 milhão de pessoas. É o maior e mais sangrento conflito armado do século. "'Guerra do Brasil', ao refrescar a memória nacional, tão marcada pelo compromisso e a amnésia, apenas põe o dedo numa feriada que ainda levará algumas gerações para cicatrizar", escreveu o diretor na época da realização do filme.
No dia 25 a sessão do MIS exibirá três títulos: os curtas "A Araucária: Memória da Extinção", de 1981 e "A Babel da Luz", de 1982; e o longa "Rádio Auriverde", de 1981, talvez o mais polêmico de todos os filmes de Sylvio Back. Pelo menos foi o que propiciou a maior chiadeira entre seus lançamentos.
Em "Memória da Extinção" o enfoque recai sobre o pinheiro; "A Babel da Luz" é um sensível trabalho sobre a poeta Helena Kolody e "Rádio Auriverde" coloca na tela Carmem Miranda e os pracinhas nos campos italianos (1944-45). Este fita gerou críticas contundentes dos antigos combatentes que fizeram até passeata contra o filme.
Dia 26 tem "Zweig: A Morte em Cena", produção de 1995 que traz à tona a morte do pensador austríaco Stefan Zweig e de sua mulher Lotte. Foram encontrados mortos, depois de tomarem veneno no verão de 42, em Petrópolis. O programa da noite se completa com "Yndio do brasil" (1995), novamente uma colagem de dezenas de filmes nacionais e estrangeiros, revelando como o cinema vê e ouve o índio brasileiro, desde a primeira tomada que se tem notícia: em 1912.
"É impossível revisitar o passado recente do País sem estabelecer uma interação com seus arquivos cinematográficos – por mais que esse patrimônio seja comprometido política e ideologicamente", alfinetou o diretor em sua justificativa.
Também um programa duplo no dia 27: "Vida e Sangue de Polaco" (1982) e "Auto-Retrato de Bakun" (1984). O primeiro, refaz todo o complexo cultural e emocional dos poloneses desde sua chegada ao País, em 1869, até a situação atual de seus descendentes. Já o auto-retrato pincelado do maior pintor paranaense é um trabalho instigante: para falar da vida, da obra e da morte de Bakun, que se enforcou no quintal da casa, em 1963 (tinha 54 anos), Sylvio Back vasculhou as lembranças dos amigos e parentes; também participou de sessões espíritas, tentando varar os mistérios.
"Cinemateca Sylvio Back": mostra dos trabalhos do cineasta Sylvio Back, no Museu da Imagem e do Som (Rua Barão do Rio Branco, 395, em Curitiba. Telefone 232-9113. Até dia 27, com sessões às 19 horas. Entrada franca. Dia 28 Back estará presente ao lançamento do Cadernos do MIS nº 24, intitulado "Docontaminado", contendo três ensaios sobre o documentário brasileiro, publicado pelo cineasta na imprensa nacional.