Os ânimos entre o deputado federal Boca Aberta (Pros) e o Sindmed (Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná) voltaram a se acirrar. Tudo por causa de um vídeo divulgado nas redes sociais oficiais do parlamentar - classificada pelo mesmo como "blitz da saúde" - durante uma visita no Hospital São Camilo, em Jataizinho (25 km de Londrina). A gravação de 25 minutos já teve mais de 1,5 mil comentários e ultrapassou 4.8 mil compartilhamentos no Facebook.
Nela, Boca Aberta, acompanhado de assessores, chega às 4h30. Ele é recebido por um enfermeiro e acessa o corredor da unidade, perguntando onde estaria o médico de plantão. O funcionário avisa que o profissional estava no quarto. O deputado abre a porta da dependência e acorda o servidor. "O senhor é pago para dormir?", questiona. Na sequência, o político aciona uma viatura da Polícia Militar para registar um boletim de ocorrência do caso.
A intervenção de Boca Aberta gerou críticas do sindicato que representa a categoria médica na região de Londrina. O presidente da entidade, Alberto Toshio Oba, classificou a conduta como midiática e populista. "Não foi uma agressão contra uma pessoa só, mas uma afronta à classe. Ele fez isso só para angariar votos. Jogar a culpa em cima do plantonista pelo caos na saúde é totalmente errado", disse.
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De acordo com Toshio Oba, mesmo de plantão, o médico tem direito ao repouso. "É claro que o descanso não acontecerá quando o atendimento estiver intenso. Quando a procura cai, há permissão legal para a necessidade do intervalo acima de uma jornada de seis horas. Esse cidadão (Boca Aberta) desconhece essa norma. Enquanto deputado, ele deveria trabalhar para melhorar a saúde", apontou. Na filmagem, a sala de espera do São Camilo aparece vazia. Alguns pacientes chegam já no final das imagens.
O Sindmed, junto com a FENAM (Federação Nacional dos Médicos) estuda a possibilidade de ingressar com uma representação na Corregedoria da Câmara Federal. O profissional que o deputado julga ter denunciado também já contratou uma advogada para formular a queixa.
Procurado pela reportagem, Boca Aberta retrucou as críticas do sindicato. "Eles deveriam pedir desculpas ao povo por essa declaração. Não estou atrás de mídia e nem preocupado com isso porque a eleição foi ano passado. Vou continuar com as denúncias. Quero ver pedirem a minha cabeça lá em Brasília. Agora tenho autonomia e imunidade para entrar em qualquer lugar e fiscalizar a atuação de quem é pago pela população".
O deputado desafiou o Sindmed a mostrar a legislação que autoriza o servidor a dormir temporariamente durante os plantões. "Quando você passa por um pedágio, o cobrador fica dormindo? E quando contrata um guarda noturno? Ele precisa ficar acordado. É uma lógica simples. Querem justificar o injustificável. Tinha uma menina passando mal e quase vomitando quando fui lá", completou.
Repercussão
Após a publicação da matéria, o Conselho Regional de Medicina do Paraná e a Associação Médica do Paraná também divulgaram nota de repúdio a respeito do episódio.
Confira a íntegra da nota:
NOTA DE REPÚDIO
O Conselho Regional de Medicina do Paraná e a Associação Médica do Paraná vêm a público manifestar o seu repúdio à conduta do radialista e deputado federal Emerson Petriv, o Boca Aberta, por ter abordado médico em ambiente hospitalar e divulgado em redes sociais as imagens gravadas que atentam contra a honra do profissional. Também repudiam a exposição pública de paciente criança, fato que viola o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O episódio ocorreu na madrugada do último domingo, 17, no Hospital Municipal São Camilo, em Jataizinho, região metropolitana de Londrina. O médico teve invadida a sala de descanso pelo radialista, com gravação de imagens sem autorização.
Como exibido no vídeo, o profissional se encontrava em regime de plantão e não havia, naquele horário, nenhum atendimento médico requisitado.
Todos os profissionais que trabalham em regime de plantão dispõem de período para descanso, alimentação e cuidados de higiene pessoal, como amparado pela legislação.
O CRM-PR e a Associação Médica do Paraná, por meio de seus departamentos jurídicos, tomarão as medidas necessárias para a apuração dos fatos e o encaminhamento das providências contra ações que ferem o decoro do cargo parlamentar, a cidadania e o bom nome da Medicina.
Curitiba, 22 de março de 2019.
(Atualizada às 17h50)