A ouvidora-adjunta da Ouvidoria Agrária Nacional, Maria de Oliveira, conseguiu convencer os trabalhadores rurais sem-terra, que invadiram o Núcleo Agrícola da Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu (165 quilômetros a leste de Cascavel), no último final de semana, a desocuparem a área.
As 1,5 mil famílias serão remanejadas para uma outra área dentro da própria fazenda. A intenção é que os sem-terra fiquem longe da área de reflorestamento para não comprometer as atividades de produção de papel e celulose e o beneficiamento de madeira.
Na tarde desta quinta-feira, Maria de Oliveira, acompanhada do procurador-geral do Estado, Sérgio Botto de Lacerda, e do diretor-geral da Secretaria da Segurança Pública, Marco Antônio Berberi, foram até a sede administrativa da Araupel para uma reunião com a diretoria. A comissão chegou justamente no encerramento do expediente e acabou sendo alvo de protesto dos funcionários que saíam do trabalho.
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Para o diretor de Recursos Humanos da Araupel, Alberto Pius, o acordo feito pela ouvidora com o MST não resolve o problema. Segundo ele, os sem-terra irão liberar as áreas para a atividade florestal, mas a produção agrícola continuará prejudicada. O diretor alega que a empresa tem contratos a cumprir e começaria, agora, a colheita de aveia, trigo e triticale.
Nesta sexta os principais acionistas da Araupel se reúnem em Porto Alegre (RS) para discutir a situação da fazenda. Nesta última ocupação, a quinta de 1996 para cá, cerca de 4 mil pessoas tomaram controle do Núcleo Agrícola, comprometendo as atividades de plantio, e bloquearam as estradas que dão acesso à área de reflorestamento.
Segundo a empresa, a produção de papel e o beneficiamento da madeira não chegaram a ser prejudicados, pois havia estoque de matéria-prima. Nesta quinta, a preocupação da direção, informou Pius, era com os equipamentos e tratores que estavam sendo retirados dos galpões pelos sem-terra.
O procurador-geral do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Frederico Marés, e o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, também se reunirão com representantes da Araupel, em Porto Alegre.
Segundo a assessoria de imprensa do Incra no Paraná, a intenção é tentar convencer os empresários a ofertarem uma parte da fazenda para implantação de um assentamento. Até o final da tarde desta quinta-feira, a posição da empresa ainda era de não vender mais nem um hectare de terra. Cerca de 26 mil hectares da fazenda já foram desapropriados para criação do assentamento Ireno Alves dos Santos, onde vivem cerca de 1,5 mil famílias.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) defende que cerca de 30 mil hectares da Araupel, correspondentes às áreas agriculturáveis, sejam disponibilizados para a reforma agrária. Restariam para a empresa, em torno de 18 mil hectares de área de reflorestamento. Outros 5 mil hectares, aproximadamente, correspondem à área de mata nativa.