No dia 1º de janeiro, o calendário gregoriano marca a chegada do terceiro milênio. Apesar de histórico, ele se aproxima sem a badalação vista no começo de 2000, anunciado erroneamente como o início (e não o fim) de uma era.
Os eventos que se espalharam pelo mundo há quase um ano reuniram ingredientes poderosos para se acreditar que o século 21 nascia. O Bug do Milênio foi um deles. A ameaça que poderia arruinar os computadores em escala mundial rendeu mais alarde apocalíptico do que prejuízo para a civilização.
A Olimpíada de Sydney, ironicamente a última deste século, também teve sua parcela de culpa. Os jogos atraíram grandes investimentos no mercado publicitário. Por ser um número redondo, 2000 ofereceu inspiração de sobra para sustentar qualquer projeto de propaganda, que sugerisse grandiosidade e renovação.
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Além do interesse comercial, a desinformação sobre os critérios de como os anos são contados ajudou a confundir. O calendário juliano, que antecedeu o gregoriano, tomou como base o nascimento de Jesus Cristo para instituir o ano "um". Se os sábios da época tivessem usado o algarismo zero como marco inicial, 2000 seria admitido legalmente no século 21.
No ano passado, a saudação ao terceiro milênio, em Curitiba, embarcou no mesmo clima de euforia visto no resto do mundo. A festança ocorreu no Parque Barigui, o principal da cidade, reunindo mais de 100 mil pessoas. O ápice da comemoração foi uma gigantesca queima de fogos. Os ambientalistas tentaram impedir o barulho sob a alegação de que as aves que povoam o parque poderiam ser afetadas.
Mas na virada para o século 21, daqui a três dias, a programação não se repetirá e a fauna local não vai ser incomodada para alívio dos ecologistas. "No ano passado a comemoração foi promovida no Parque Barigui porque se tratava de uma ocasião especial, a chegada do ano 2000, que foi considerada – na prática – como a chegada do novo milênio", explica a assessoria de imprensa da prefeitura.
Outra alegação é a Lei de Responsabilidade Fiscal. "Os prefeitos estão proibidos de fazer despesas que não possam pagar dentro da atual gestão", informa a assessoria. Apesar de reeleito, o prefeito Cassio Taniguchi (PFL) estaria impedido pela lei de estender a despesa com uma nova festa para o seu segundo mandato.
A assessoria lembra ainda que não era praxe da prefeitura realizar comemorações daquela envergadura nos anos anteriores. Pelo menos no quesito festa e na memória de todos, o século 21 já chegou. Paradoxalmente, no século passado.