A visita do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, na tarde de ontem foi marcada por um clima de constrangimento.
O mal-estar, segundo apurou o Estado, teve início já na segunda-feira, quando Eduardo Cunha informou, em declarações à imprensa, que havia solicitado a Lewandowski uma audiência para tratar da decisão do Supremo sobre o rito do impeachment.
Integrantes do STF alegaram que, até então, não havia nenhum pedido formal de encontro e que souberam da solicitação pelos jornais. A controvérsia desatada pela iniciativa de Cunha levou alguns ministros da Corte a questionar, em tom crítico, se ele também estava querendo pautar a agenda do presidente do STF.
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O encontro entre os dois presidentes, realizado ontem no gabinete de Lewandowski, teve situações embaraçosas. Pouco antes da reunião, a assessoria de Cunha pediu uma conversa reservada, sem a presença de jornalistas que acompanham o dia a dia da Corte. A pessoas próximas, Lewandowski disse estranhar o pedido e afirmou que o tema da audiência não era nada que não pudesse ser tratado publicamente.
Ao receber Cunha, que estava acompanhado pelos líderes Jovair Arantes (PTB) e Alessandro Molon (Rede), e pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), Lewandowski afirmou que era "hábito" abrir as reuniões administrativas desse tipo e perguntou se Cunha via algum problema de a conversa ser acompanhada pela imprensa. Cunha ouviu, assentiu e considerou "tudo bem".
Itamar - O gesto de Lewandowski de abrir o encontro à imprensa foi semelhante ao de Itamar Franco, quando era presidente da República, de abrir à imprensa o encontro com o senador Antônio Carlos Magalhães, que ameaçava ter "provas" contra o então ministro Jutahy Magalhães.
Com tom de voz baixo e de costas para os jornalistas, Cunha levou ao presidente do Supremo dúvidas sobre a aplicação do julgamento do rito do impeachment. Ele deixou o encontro demonstrando desconforto com a presença dos jornalistas durante o encontro. "Não vim para esclarecer, vim para institucionalmente trazer a preocupação política e pedir a celeridade que vem sendo dado até agora", desconversou. "Não é para sair contente nem triste."
Visitas anteriores de Eduardo Cunha ao STF também já haviam sido motivo de constrangimento. No último mês de julho, ele foi acompanhado de seu advogado, o ex-procurador-geral da República
Antonio Fernando de Souza, ao gabinete de Lewandowski para questionar a atuação do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações do esquema de corrupção na Petrobrás. A iniciativa do parlamentar foi recebida, nos bastidores do tribunal, como uma tentativa de pressão sobre o presidente do Supremo.
Em fevereiro, Eduardo Cunha deve voltar a ser o centro das atenções dos ministros do STF. Na ocasião, os integrantes do STF julgarão o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de afastamento do peemedebista do mandato de deputado federal e, consequentemente, das funções na presidência da Casa. Cunha é alvo de inquéritos no Supremo no âmbito da Operação Lava Jato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.