O depoimento do ex-presidente do Banco Bamerindus José Eduardo de Andrade Vieira à CPI do Proer, quarta-feira, vai dar um novo viés à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga irregularidades no programa do governo federal. A opinião é do vice-presidente da CPI, deputado Milton Temer (PT-RJ), um dos autores do requerimento que criou a comissão.
A opinião é compartilhada pelos deputados paranaenses Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Rubens Bueno (PPS), que também assistiram ao depoimento de José Eduardo. À CPI, o ex-controlador do banco paranaense afirmou que houve uma ação deliberada por parte das autoridades monetárias do Banco Central para prejudicar o Bamerindus. "O Bamerindus não quebrou, foi quebrado", disse José Eduardo. O Bamerindus sofreu intervenção do Banco Central em 26 de março de 1997, e seu controle passou ao grupo inglês HSBC.
Nesta quinta-feira, Milton Temer se declarou "bizarramente surpreso" com as informações prestadas por José Eduardo e confirmou que vai apresentar requerimento na próxima reunião da CPI para que seja feita uma acareação entre José Eduardo e Gustavo Loyola, presidente do Banco Central à época da intervenção. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, também deve ser convocado a depor.
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Temer disse que o depoimento foi fundamental para elucidar a intervenção e que a operação foi organizada com limites doutrinários e ideológicos, para entregar o banco a um grupo internacional. "É muito evidente que houve transferência de recursos públicos para uma empresa privada, foi uma operação casada entre o Banco Central e o HSBC", afirmou o parlamentar.
Para o deputado Rubens Bueno, o depoimento do ex-presidente do Bamerindus foi "corajoso". A CPI do Proer, prosseguiu, deve apontar as fraudes nos bancos Econômico e Nacional, que já são de conhecimento público. No Bamerindus, no entanto, o parlamentar lembra que nunca houve nenhuma denúncia de irregularidades em balancetes ou na contabilidade da instituição.
Na opinião de Bueno, a transferência do controle acionário do Bamerindus para o HSBC fez parte de um jogo até hoje não explicado. "Durante um ano e meio o Bamerindus foi alvo de uma onda de boataria, cuja fonte era o próprio governo", lembrou.
O deputado Luiz Carlos Hauly revelou que a sequência dos fatos expostos por José Eduardo o impressionou e que ele está motivado a aprofundar as investigações. Mas, ele não acredita ser necessária a acareação entre Loyola e José Eduardo. Na sua opinião, existem outras possibilidades que devem ser esgotadas antes desses recurso.
Hauly lembrou ainda o problema dos acionistas minoritários do Bamerindus. "É preciso viabilizar uma discussão junto ao Banco Central para resolver o caso dos minoritários, que só no Paraná somam mais de 40 mil", disse Hauly.
A CPI do Proer, presidida pelo deputado paranaense Gustavo Fruet (PMDB), deve ouvir na próxima semana os liquidantes do Banco Econômico, Francisco Sales Barbosa e Flávio Cunha.