O eleitor só deve se dar conta das eleições em 2010 com a chegada da propaganda eleitoral, em meados do ano, mas, no meio político, a disputa já começou. No Paraná, três nomes se destacam no jogo, na briga pela cadeira máxima do Executivo estadual: o senador Osmar Dias (PDT/PR), que se lançou ‘candidato natural’ ao cargo depois do seu desempenho nas eleições de 2006, quando perdeu, no segundo turno, por uma diferença de quase 10 mil votos para o atual governador do Estado, Roberto Requião (PMDB); o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), fortalecido depois da reeleição no pleito de 2008, quando obteve quase 80% dos votos; e o senador Alvaro Dias (PSDB/PR), que ganhou espaço no Congresso Nacional com uma atuação oposicionista ao governo federal, mas ainda enfrenta o favoritismo interno do correligionário.
Correm por fora Orlando Pessuti (PMDB), atual vice-governador do Paraná, que conta com a máquina e a possibilidade de assumir interinamente o Executivo no ano que se inicia, além dos petistas Nedson Micheleti, ex-prefeito de Londrina, e Lygia Pupatto, atual secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - nomes à disposição da legenda, enquanto Osmar pensa na possibilidade de aliança.
Ao longo de 2009, Beto partiu para o interior, onde seu nome está ligado ao do pai, o ex-governador do Estado José Richa. Osmar também organizou encontros pelo Estado, alegando que a prioridade era a construção de um projeto para o Paraná. Mas, nas costuras políticas, deu poucos passos. Osmar insistiu na ‘ampla aliança’, que deu respaldo à sua candidatura em 2006 e também à vitória de Beto, em 2008. Mas os tucanos não esperaram: optaram pela candidatura própria. Mesmo assim, Osmar não bateu o martelo à oferta do PT, interessado em oferecer um palanque regional para Dilma Rousseff, pré-candidata à sucessão do presidente Lula.
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As cartas do jogo, portanto, ainda não foram distribuídas. Na avaliação do cientista político Ricardo Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, Osmar comete o mesmo erro que teria custado a sua vitória em 2006: ‘Naquele ano, ele demorou para sair candidato, foi inseguro, e perdeu apoios importantes, como o do PFL (atual DEM), que comprometeu o resultado final da eleição’.
Para Oliveira, a disputa nacional, polarizada entre o PT e o PSDB de José Serra, tem reflexos no Paraná, onde o PSDB se apresenta com dois candidatos e Osmar, para se viabilizar, precisaria pular para os petistas. ‘O PT tem um candidato forte à presidência da República, tem a máquina nas mãos. O PDT é um partido pequeno e fraco. Já o PSDB também é um partido nacionalmente forte, que tem a máquina em Curitiba. No plano federal, o debate está polarizado, é uma eleição bipartidária. Se Osmar não se posicionar, ele não decola. E, enquanto ele não se decide, Beto está em campanha acelarada pelo interior, vai avançando’, afirmou ele.
Mas a dificuldade em se unir ao PT não estaria relacionada ao fato de o nome do pedetista estar ligado à ala conservadora, do agronegócio? Para Oliveira, o eleitorado não faz a relação. ‘Blairo Maggi (governador do Mato Grosso) também é do agronegócio e apoiou Lula. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, trabalhou com a Arena. O próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, que tanto criticava o governo Lula, agora não faz parte dele? O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Nelson Justus, do DEM, apoia o governador Requião, cujo discurso é de esquerda. Político é que nem nuvem, cada hora está de um jeito. A política é feita mais de expectativa de poder, do que de ideologias. E o eleitorado quer candidaturas sólidas. A única esperança para o Osmar é se unir ao PT. E, se ele desistir, é possível que Beto vença já no primeiro turno’, opina ele.
Alvaro
Oliveira destaca ainda que, dentro do PSDB, também já não há indefinição: Beto teria o apoio da maioria das lideranças tucanas. ‘Alvaro é a geração do passado. O Beto vai tentar passar a imagem da renovação, mas com experiência administrativa. E a esmagadora maioria já está com Beto. Alvaro quer manter a aparência, na tentativa de aumentar seu capital político, mas ele já foi para escanteio’, afirma ele.
Requião
O cientista político compara a situação de Alvaro com a do governador Requião, lançado pré-candidato do PMDB à Presidência da República, em resposta ao pré-acordo firmado para 2010 entre as cúpulas do PMDB e do PT: ‘Todos sabem que ele não tem a mínima chance, mas, assim, ele já está fazendo campanha para o Senado. É o que chamamos na política de pechinchar posições. Os políticos sempre se colocam acima do que eles conseguem’.