O número de pessoas que vivem na faixa de miséria no Paraná deve continuar crescendo caso o governo estadual não modifique a política de desenvolvimento do Estado. Para o professor Pedro Bodê de Moraes, do Núcleo da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a concentração de renda, a falta de investimentos sociais e o modelo econômico adotado impedem que se reverta a curto prazo a curva de crescimento da pobreza.
Na segunda-feira, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou a pesquisa "Mapa do Fim da Fome", em que constata que quase 2 milhões de paranaenses sobrevivem com menos de R$ 80,00 por mês.
Na avaliação de Moraes, a política de desenvolvimento estadual é falha ao não dar alternativas para as populações do interior, provocando a migração.
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A assessoria de imprensa do Palácio Iguaçu, no entanto, entende que a causa da migração é a conjuntura econômica. Apesar do quadro nacional, a assessoria reforçou que o governo estadual vem realizado diversos programas sociais que estariam reduzindo os efeitos negativos das crises econômicas.
O coordenador econômico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), Cid Cordeiro, considera que os erros do governo federal na condução econômica são apenas uma dos componentes que agravam o problema local.
"A política de desenvolvimento industrial concentrou indústrias e não gerou a quantidade de empregos prometida", disse, referindo-se aos 500 mil empregos anunciados pelo governo estadual. Porém, a assessoria de imprensa do Palácio Iguaçu afirma que 210 protocolos de intenções foram firmados e 400 empresas instaladas, gerando 700 mil empregos diretos e indiretos.
Cordeiro entende que, junto com a falta de ofertas de trabalho, existe um mascaramento do nível de desemprego no Paraná. Segundo ele, a pesquisa de empregos elaborada pelo governo estadual não contabiliza o universo real.
Outro fator apontado pelo economista é a concentração de renda no campo. Pesquisas do Dieese apontam que o bóia-fria e pequenos agricultores do Paraná recebem salários oito vezes menores que a média nacional, enquanto os seus patrões ganham sete vezes mais que a média nacional.
Para Pedro de Moraes, o resultado desse cenário é a perda de população das pequenas cidades do interior e o inchaço dos grandes centros. Pelos dados da FGV, a Região Metropolitana de Curitiba foi a região onde mais cresceu a pobreza, entre 1996 e 1998. Na Capital, existem 136.949 pessoas que vivem com menos de R$ 80,00 mensais e outras 107.909 que se sustentam com até R$ 154,00. O crescimento da pobreza foi o maior entre as capitais do País.
"As pessoas migram por falta de oportunidade e vão para onde há melhores condições de vida", sintetizou o prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL). O prefeito, aliado do governador Jaime Lerner (PFL), considera que a migração é fruto da falta de investimentos sociais das prefeituras do interior, isentando o governo estadual de qualquer responsabilidade.
Taniguchi entende que o Curitiba vem conseguindo segurar a explosão com aplicação de programas sociais direcionados. "Mas acaba saindo mais caro para os cofres do município".