A base do discurso visível do deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) está nas questões de segurança pública e de ordem moral. Até aí, nenhuma novidade. Mas, claro, nem só de segurança e religião vive o parlamentar. Uma pesquisa no site da própria Câmara, entre as mais de 200 frentes parlamentares em funcionamento, revela um Bolsonaro, digamos assim, mais diversificado.
Como praticamente todos os deputados, Bolsonaro assinou a criação de uma série de frentes. Entre as mais inusitadas estão a de Defesa do Futsal; a da Defesa da Valorização Nacional de Uvas, Vinhos, Espumantes e seus Derivados; a da Odontologia e da Brasil Sem Jogos de Azar. Há até uma frente de temas que têm estado mais na pauta de deputados de esquerda e ligados aos direitos humanos, a da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial.
Tem mais: Bolsonaro está inscrito em três frentes em que o seu "arqui-inimigo", o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), também está inscrito. A Frente do Automobilismo Brasileiro, a Frente em Defesa dos Despachantes e Documentaristas do Brasil e a Frente Mista do Artesão e do Artesanato Brasileiro.
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O que a assinatura do presidenciável nessas frentes revelam é a pouca relevância que o instrumento (frentes parlamentares) tem no Congresso. "É uma coisa quase colegial. Você assina a minha frente que eu assino a sua. Mas, na prática, não existe uma participação dos deputados em reuniões ou discussões. Elas servem aos seus criadores quase como um cartão de visitas. O deputado cria uma frente e coloca no cartão, ou diz para o eleitor, que é presidente de frente tal e que está trabalhando nisso ou naquilo...", afirmou o cientista político Humberto Dantas (FGV).
O fato é que os presidentes de frentes procurados pela reportagem disseram que Bolsonaro não é um membro ativo de nenhuma delas. "É normal esse procedimento na Câmara. As frentes têm um núcleo de coordenadores que atuam por aquela causa. Não são todos que atuam, que participam de reuniões e conversas", disse o deputado Bacelar (Podemos-BA), presidente da Frente em Defesa do Futsal.
A assessoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), que preside a Frente da Luta Antimanicomial, também informou que Bolsonaro não é um membro ativo do grupo e que ele nunca participou de nenhuma reunião. Além disso, afirmou que a assinatura do deputado seria apenas para a abertura da frente, algo comum na Câmara.
Sobre as frentes em que Jean e Bolsonaro aparecem juntos, a assessoria do parlamentar do PSOL afirmou que ele também não é membro ativo de nenhuma dessas frentes e que apenas teria assinado para que elas pudessem existir. Segundo deputados que preferiram não se identificar, a maioria das frentes nunca passou "de um pedaço de papel" e mesmo aquelas cujo os temas são relevantes produzem pouco.
Bolsonaro foi procurado pela reportagem, mas não respondeu às mensagens deixadas no celular. A assessoria do deputado disse que ele estava afônico e gripado e por isso não poderia responder aos questionamentos.