Os delegados paranaenses citados para indiciamento na CPI Nacional do Narcotráfico criticaram ontem a atuação dos deputados federais na busca de provas para incriminá-los. Eles alegam, entre outras coisas, cerceamento do direito de defesa.
O delegado Kyoshi Hattanda - afastado de suas funções pelo Estado desde a passagem da CPI Nacional por Curitiba e citado por sonegação fiscal, movimentação financeira incompatível com os rendimentos, tráfico de drogas, furto e desmanche de veículos, extorsão, corrupção ativa e passiva - disse ontem que tentou prestar esclarecimento aos deputados federais, mas que não foi ouvido.
"Cheguei a ir até a Assembléia Legislativa, mas eles não quiseram me ouvir", declarou o delegado, que chegou a ficar 40 dias preso no Centro de Orientação e Triagem (COT) da Penitenciária Provisória de Curitiba (PPC).
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Hattanda disse que irá responder todas as denúncias judicialmente. "Não vou entrar em detalhes. Não existem provas materiais contra mim", declarou. Ele afirmou que confia na Justiça. "Sei que a mesma Justiça que me concedeu habeas corpus, vai me absolver destas acusações", disse.
A Folha tentou contato com o delegado Mário Ramos, ex-titular do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) - citado no relatório final por suposto envolvimento com o tráfico de drogas, furto, desmanche de veículos, extorsão ou peculato cometido por emprego público, corrupção ativa e passiva - mas não conseguiu localizá-lo. O advogado criminalista René Dotti, que defende o delegado, estava no escritório, mas não atendeu aos telefonemas da Folha.
Já o advogado Luiz Alberto Machado, que defende João Ricardo Képes Noronha (ex-delegado geral da Polícia Civil) - citado por narcotráfico, crime organizado e desacato à CPI -, ridicularizou a comissão nacional. "Eles colocaram no relatório todos aqueles que foram citados e que os deputados não gostaram da cara", declarou ele.
Machado disse haver ilegalidades na CPI, como o fato de investigar outros crimes e a formação de uma Comissão Processante para acompanhar as investigações do Ministério Público Federal. "Isto é inconstitucional", garantiu ele.
Uma das surpresas da CPI Nacional do Narcotráfico foi a inclusão do nome da delegada operacional da Homicídios, Sonia Baggio, na lista dos indiciados. Ela foi citada pelos deputados por ter depositado um cheque do policial civil Edimir da Silveira - preso por suposto envolvimento com o tráfico de drogas - em sua conta corrente, no ano de 1995. Na ocasião, ela se relacionava com o investigador Samir Skandar, que também teve seu nome citado na CPI e está sendo citado para indiciamento.
Sonia Baggio disse que ficou surpresa com o aparecimento de seu nome. Ela justifica o depósito do cheque - que seria de R$ 1,05 mil - como parte do pagamento de um empréstimo que ela teria feito para Samir.
Ela também foi citada por sonegação fiscal e movimentação financeira incompatível com seus rendimentos. Ela se defende dizendo que os deputados não investigaram a origem de seu dinheiro. Ela teria recebido uma herança do pai, que era empresário. "Tudo o que tenho está no meu imposto de renda e pode ser comprovado. Tenho certeza que eles não foram verificar meu imposto antes de me citar para indiciamento", declarou.