Em seu décimo-primeiro mês de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admite ser candidato à reeleição em 2006. Lula deixou claro, porém, que só vai lutar pela permanência no cargo caso acredite, ao final dos seus quatro anos de governo, que possa fazer um segundo mandato melhor que o primeiro.
Em entrevista ao programa "Canal Livre", exibido na noite de domingo pela Rede Bandeirantes de televisão, Lula disse que não quer se "afundar" ao ser reeleito, como aconteceu, na opinião dele, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Eu posso decidir ou não pela reeleição. A minha tese é a seguinte: alguém só pode ser candidato à reeleição se perceber que no segundo mandato pode fazer mais que no primeiro. Porque se ele tiver confiança de que não pode, não seja louco, não seja candidato, porque vai afundar. Foi o que aconteceu com o nosso amigo Fernando Henrique Cardoso", enfatizou.
Leia mais:
Bolsonaro e aliados se apegam a tese de perseguição contra investigação de golpe
Londrina vai sediar o 1º Encontro de Transparência e Controle Social
Câmara de Londrina debate nesta segunda-feira alterações na Lei Cidade Limpa
Bolsonaro sai em defesa de militares suspeitos de plano para matar Lula
Lula disse ter "obsessão" não pelo cargo de presidente da República, mas pelas políticas públicas "que podem mudar a vida do povo". Na avaliação do presidente, a alternância de poder é uma prática positiva no Brasil e permite ao administrador público não se viciar diante da estrutura pública.
Reforma Ministerial
Se a reeleição ainda é um assunto que será discutido ao longo dos próximos anos pelo presidente, a reforma ministerial é um tema que está mais próximo de seu dia-a-dia na Presidência. Lula, entretanto, disse que vai promover mudanças em seu primeiro escalão "no momento certo", e não adiantou quando pretende colocar em prática as modificações em seu Ministério.
"Você, quando avisa que vai tirar um ministro com muita antecedência, cria um embaraço muito grande para o funcionamento do próprio ministério dele. E, se você anuncia alguém com muita antecedência, pode criar uma ciumeira tal que, em vez de ajudar, te atrapalha. Então, eu sou da época em que a gente fazia acordos 'tête-a-tête'. Você não precisava ter um documento", desabafou.
O presidente também deu um recado direto ao peemedebistas que aguardam por cargos no governo: "Eu me reuni com a direção do PMDB e disse: vocês vão para o governo, vamos aguardar votar a reforma (da Previdência), porque não me interessa fazer nada precipitado que passe para a sociedade a idéia do fisiologismo. Não é bom para o PMDB, não é bom para o governo e não é bom para ninguém".
Radicais do PT
Lula aproveitou a entrevista para "quebrar o silêncio" sobre os membros do PT que insistem em votar contra o governo e criticar abertamente as principais ações comandadas pelo presidente e que, por isso, estão ameaçados de expulsão pelo partido. Segundo Lula, não é papel do presidente da República julgar o comportamento de parlamentares. Mas ele deixou claro que, ao fazer a opção por se filiar a um partido político, o deputado ou senador tem regras explícitas a seguir.
Ao se dirigir especialmente à senadora Heloísa Helena (PT-AL), que na semana passada votou contra o PT na reforma da Previdência, Lula disse ter um "profundo respeito" pela senadora, mas deixou claro que não pretende conceder "indulto" a quem desrespeitar as normas do partido.
O presidente também rebateu as críticas de que o PT mudou o seu discurso depois de assumir a Presidência. Usando mais uma metáfora, o presidente comparou o PT no governo com o seu casamento com a primeira-dama Marisa Letícia. "O Lula casado não era o Lula solteiro. Não levei minha vida de solteiro. No governo é assim. Ganhou as eleições é governo, ônus e bônus", disse.
O presidente também não se mostrou arrependido de ter tomado decisões seriam contrárias ao seu discurso no passado. "A única coisa que eu tenho certeza é de que todo dia eu encosto a cabeça no travesseiro e durmo um sono muito gostoso, com a consciência tranqüila do dever cumprido. Estou fazendo aquilo que o Brasil precisa que alguém faça", enfatizou.
Reforma Agrária
Lula reiterou a meta de assentar 400 mil famílias no campo até o final de seu governo e regularizar 130 mil propriedades rurais. Segundo o presidente, não há atrito entre o Executivo e os trabalhadores rurais sem-terra, ou mesmo diferença de pensamentos entre os dois grupos.
"Não pode ter diferença. Eu gostaria que eles aderissem à minha proposta, e nem nós aderimos à proposta de assentar um milhão, não temos condição de assentar um milhão nesse tempo. O problema não é aritmético. É de qualificação. Eu pedi aos sem-terra que não me julguem com 11 meses de governo. Você tem que esperar o final do jogo para você julgar", revelou.
"Não é possível continuar fazendo reforma agrária do jeito que historicamente sempre se fez no Brasil. Ou seja, você vai fazendo processo de transferência de miseráveis urbanos para continuarem miseráveis no campo. Nós vamos qualificar melhor os assentamentos. É pensar não só nos que ainda falta assentar, é pensar nos que estão assentados e precisam de melhores condições de trabalho. É um trabalho muito mais sério eu peço a Deus que me dê forças que, se eu não terminar, pelo menos fazê-lo da melhor forma possível", desabafou.
Maioridade penal
Sobre a proposta de redução da maioridade penal no país, o presidente admitiu ser contrário à mudança. Segundo Lula, a redução não é uma "solução mágica" para o problema da violência. "A cada vez que acontece um crime desses, que choca a população, começam-se a apresentar soluções mágicas. Não tem solução mágica. Não tem. A pena de morte não é solução mágica, não foi em nenhum país onde ela foi criada, a redução da idade não é solução mágica", disse.
Para Lula, uma solução para o problema da violência é a revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente, com o objetivo de punir de maneira mais rigorosa os menores que praticam graves delitos.
O presidente encerrou a entrevista garantindo que, no final deste ano, fará uma prestação de contas com a sociedade para apresentar um balanço do que foi realizado em seus 11 meses de governo. E aproveitou para deixar uma mensagem de otimismo: "Queria desejar aos telespectadores que tenham a certeza absoluta que teremos um 2004 infinitamente melhor. Temos que parar com essa história de vender pessimismo. Você não pode colocar o pessimismo no produto que você quer vender. Nós temos que acreditar em nós mesmos. Quando as coisas estão difíceis, temos que torná-las menos difíceis", encerrou.