O governador Beto Richa (PSDB) concedeu nesta quarta-feira (20) longa entrevista ao programa Poder e Política, do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL. Richa foi questionado sobre a crise política e financeira enfrentada no Paraná. O governador comentou sobre os ajustes fiscais do Governo Federal e sobre a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A pauta, no entanto, ficou concentrada no momento turbulento que passa o governador. Entre as perguntas, ele respondeu inclusive se em algum momento pensou em tomar alguma atitude como renunciar.
"Nunca pensei em renunciar. Isso não passa pela minha cabeça. Fui eleito pelo voto popular. Tenho legitimidade. Estou enfrentando com coragem toda essa armação política. A divulgação dessas acusações, delações premiadas que nem podiam ser divulgadas. E está tudo na mídia".
Richa aproveitou para falar mais uma vez em complô político para desviar a atenção dos casos de corrupção que atingem o governo Dilma. "Hoje existe um complô político para desviar o foco. Ninguém dúvida mais, no meio político, no Paraná e inclusive aqui em Brasília. Existe um complô para desvio de foco dos escândalos de corrupção que envergonham o Brasil. É mensalão, é petrolão. Se for mexer no BNDES possivelmente será pior. Já está na mídia mundial, para vergonha dos brasileiros. E agora querem ir lá me desgastar de todas as formas. Não aceito e vou reagir. Não só pela minha vida política, mas muito mais do que isso. Pela minha honra e minha família. Não aceito essas acusações. Querem me arrastar para o mar de lama onde eles estão atolados".
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O tucano apontou especificamente o PT como responsável pelos ataques contra ele. "Acuso sim, (o PT) é um partido que chegou ao poder dizendo que era diferente dos demais. Hoje, eles querem insistir dizendo que todos os demais são iguais a eles. Eu sou diferente deles. Não tenho dúvida alguma (que o PT fez essas acusações ou está por trás delas). Dando uma grande divulgação. Os ataques nas redes sociais são imensos. Identificamos origens de outros Estados do Brasil, muitos Estados do Nordeste me atacando nas redes sociais".
Apertado sobre a denúncia - em delação premiada - do auditor fiscal Luiz Antônio de Souza de que sua campanha de reeleição teria recebido dinheiro ilícito, Beto Richa afirmou nunca ter recebido "um centavo de fiscais da Receita através de propina e corrupção". Sobre o delator, o governador preferiu desqualificá-lo. "Uma pessoa que estupra criança não tem nenhuma moral. E ele deu dinheiro para outro fiscal, que disse que era para a minha campanha. Se existe alguma corrupção entre eles, que já vem há décadas, como é que vai se provar que esse dinheiro veio para a minha campanha? Nós nunca trabalhamos com isso. Já é minha quinta campanha majoritária e as minhas prestações de contas são detalhadas. E todas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral, em especial essa de 2014".
Ainda no âmbito das denúncias, o tucano defendeu a esposa Fernanda Richa sobre a informação confirmada pelo Ministério Público de que ela está investigada no caso de que teria exigido dinheiro para a campanha em troca da promoção de auditores fiscais na Receita Estadual. "Essa história é uma canalhice. É difícil eu falar porque possivelmente você não conhece a minha esposa. Qualquer marido vai defender a sua mulher. Mas pergunte no Paraná quem é Fernanda Richa. Pergunte a quem você quiser. Até no meio político, aquele que for sério, ético, vai reconhecer a mulher de valor que ela é. Nunca lidou com essas coisas. Garanto para você que ela nem sabe o que é auditor fiscal, nem sabe onde fica a sede da Receita [estadual]. Isso foi resultado de uma carta anônima, que jamais o Ministério Público, na minha opinião, deveria ter aceito. Deveria ter arquivado na hora. Até porque o Ministério Público sabe quem é a minha mulher. Uma mulher de valor, trabalhadora. Uma mulher muito religiosa, vem de um bom berço, uma boa família. Repudio com toda a veemência a divulgação que deram ontem [19.mai.2015] a uma carta anônima. Não aceito. Já recebi dezenas de ligações de pessoas solidárias, indignadas com a divulgação que deram no Estado do Paraná por uma pessoa que nem nome nem cara tem".
Adversário político, o senador Roberto Requião (PMDB) também foi assunto na entrevista ao Poder e Política. Richa subiu o tom ao comentar uma publicação do ex-governador do Paraná dizendo que a renúncia seria uma das poucas saídas para o governo que "bate em professor, rouba dinheiro pública e desgoverna o Estado". "Ele é um maluco. Todo mundo conhece o político irresponsável que ele é. Primeiro, nem está aqui no Brasil. Está lá na Letônia. Pode investigar. É o senador turista. Não trabalha, adora mordomias, andava a cavalo toda manhã quando era governador. Tem um inquérito no Ministério Público apontando que ele desviou R$ 8 milhões dos cofres públicos para tratar os cavalos, que ele fazia passeios com seus convidados, toda manhã. Adorava vinho importado. Na residência oficial construiu uma adega com mais de mil garrafas, que ele ganhava dos empresários e empreiteiros. Uma vez ele me falou isso. Tem uma imagem para o público externo e o seu comportamento é muito diferente. Devia trabalhar mais, aceitar o resultado das urnas. É um mau perdedor. Ele espalhou para todo mundo que seria candidato ao governo e ia me dar uma sova. Eu pus 2 por 1 nele na urna. Porque seus métodos são ultrapassados. Ele representa o atraso".
Sobre a greve dos professores da rede estadual, Beto Richa reforçou que a administração dificilmente passará dos 5% na proposta de reajuste. O tucano argumentou que o número apresentado já foi um esforço do governo diante da dificuldade financeira do Estado. "É difícil. Cheguei com muito esforço aos 5%, que representa a mais na folha de servidores R$ 65 milhões por mês. É um dinheiro que faz falta hoje na crise que vivemos. Mas o problema não é o salário. Cada hora é uma bandeira nova. O sindicato é comandado pelo Partido dos Trabalhadores, que conseguiu, momentaneamente, desviar o foco das denúncias do petrolão, das denúncias de mensalão. Essas denúncias e apurações têm saído do Estado do Paraná. Eles acharam por bem, lá no Paraná mesmo, desviar o foco e puxar para mim essa insatisfação da sociedade. Eles querem me arrastar para o mar de lama em que eles estão hoje".
O governador comentou sobre o episódio do dia 29 de abril quando a Polícia Militar reprimiu um protesto dos servidores que tentavam impedir a votação do projeto de lei que alterou o regime de previdência do funcionalismo - aprovado na Assembleia Legislativa. Cerca de 200 pessoas ficaram feridas. "O que aconteceu naquele confronto? Faço questão de explicar, até porque as pessoas me conhecem. Nunca fui de confronto. Abomino. Para mim, violência, agressão, é inaceitável. Sou uma pessoa conciliadora, de fácil diálogo, acessível. O que aconteceu ali é que eles quiseram ir para o confronto. Não há dúvida que eles queriam um cadáver naquele dia".
A entrevista foi finalizada com a pergunta se Richa se arrependia de alguma atitude nos episódios lembrados. "Não. Evidente que ainda estou triste pelo ocorrido. Sempre fui avesso a confronto. Sou do diálogo. Sou uma pessoa de muito equilíbrio emocional. Como toda pessoa de bem, óbvio que não gosto de ver aquelas imagens do confronto da polícia com manifestantes. Isso me causa muito tristeza. Que sirva de lição."
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