Para o Palácio do Planalto, a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara dos Deputados e a convocação das eleições para a sua sucessão foram "o melhor dos mundos" na tentativa de driblar a crise econômica, com votação de medidas importantes pelo Congresso.
A ideia do Planalto é não interferir diretamente na escolha do sucessor de Cunha, principalmente porque todos os postulantes ao cargo, até agora, são de partidos da base do governo.
Aliados do presidente em exercício Michel Temer esperam que as candidaturas, que hoje somam 13, se afunilem. "Quem tiver capacidade de buscar o consenso em seu partido, sairá na frente, neste processo de sucessão, assim como o partido que tiver capacidade de aglutinar mais legendas em torno do seu candidato, certamente poderá liderar o processo", disse um interlocutor direto de Temer, salientando que a hora é de "aguardar um pouco os acontecimentos para saber para onde a maré vai levar e vai esperar afunilar as candidaturas".
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No Planalto, a avaliação é de que "o momento do governo tem de ser de observação para que não saia "chamuscado ou até derrotado" nesse período. A intenção é ter tempo de sentir o pulso dos acontecimentos, aguardando as negociações dos partidos em torno dos nomes. "Há uma divisão muito grande entre os partidos da base aliada e, se o Planalto entrar opinando neste momento, pode acabar prejudicado", disse outro interlocutor presidencial, lembrando que "o momento é de muita conversa, de muito diálogo".
'Fiador'
Em várias conversas mantidas com integrantes do Planalto, Cunha queria o governo como "fiador" de que não teria o seu mandato cassado. O governo, no entanto, de acordo com interlocutores de Temer, alegou que não teria como orientar votos de aliados para salvar o peemedebista, ainda mais quando há uma forte pressão da opinião pública pedindo sua saída definitiva do cenário político.
Os movimentos do governo Temer eram, em todos os momentos, de demonstrar que Cunha não estava sendo abandonado, mas que também não estava tão próximo assim do governo.
Cunha, que é do PMDB, sempre foi aliado do governo, que reconhece que ele foi importante no processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, mas Temer, que chegou a receber Cunha no Palácio do Jaburu há dez dias, sabia que a derrocada do agora ex-presidente da Câmara era iminente.
Para o Planalto, a saída de Cunha da Presidência da Câmara foi "um alívio", mas o governo sabe que tem um complicado xadrez a enfrentar pela frente, ainda mais que já recebeu sinais de que o PMDB também vai pressionar por um candidato. Os dois principais nomes da legenda para o cargo, neste momento, são Osmar Serraglio (PR), e o líder Baleia Rossi (SP).
O fato de Cunha ter declinado sua preferência por Rogério Rosso (PSD-DF) acabou por prejudicar a sua imagem.
'Sem preferência'
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que o governo "não tem preferência nem rejeição" por nenhum candidato para suceder Cunha. "O que interessa é unidade de sua base de sustentação, de nenhuma forma o governo vai procurar interferir (no processo de sucessão)", disse, durante coletiva do anúncio da meta fiscal de 2017.
Padilha ressaltou que Temer tem se caracterizado por uma postura de quem "defende a independência e harmonia entre Poderes. "Ele quer que o governo seja pautado por essas premissas", pontuou o ministro, reforçando que questões do Legislativo devem ser resolvidas no Legislativo. O ministro acrescentou que durante o tempo de afastamento de Cunha, por exemplo, as votações na Câmara foram conduzidas com "absoluta normalidade". Ele não citou a derrota de ontem, quando o governo não conseguiu aprovar a urgência para o projeto que trata da renegociação das dívidas dos Estados com a União. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.