A posse da presidente eleita, Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada vem gerando expectativa na Europa sobre o futuro do Brasil pós-Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, alguns dos maiores jornais do continente publicaram editoriais nos destacando os desafios da nova presidente, que recebeu ontem o título de uma das personalidades do ano pelo jornal francês La Tribune.
Entre homenagens aos oito anos de governo Lula, a mídia da Europa fez o balanço dos dois mandatos e projetou os desafios que Dilma enfrentará a partir de hoje. Na Inglaterra, o jornal The Guardian intitulou "Era Lula chega ao fim no Brasil" seu texto sobre a transição política. O periódico destacou a popularidade do atual chefe de Estado, próxima de 90%, e as medidas que retiraram da linha da pobreza 20 milhões de brasileiros. "Amanhã à tarde, a cortina finalmente cairá sobre o reinado de oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva quando sua sucessora, a ex-marxista rebelde Dilma Rousseff, descer do Rolls-Royce prateado 1953 e tomar o assento presidencial ainda quente", ilustrou. "Lula, ex-líder sindical, cuja meteórica ascensão quebrou o molde tradicional dos líderes políticos brasileiros, deixa para trás um país radicalmente transformado: os negócios estão crescendo e os sempre excluídos pobres estão deixando na ascendente."
Já o Financial Times se concentra sobre o futuro governo. Para o jornal de economia, Dilma toma o lugar de Lula prometendo a manutenção da prosperidade, mas com novas características. "(A transição) também aponta um estilo mais centralizado de governo, em que Dilma Rousseff vai atuar principalmente como um gerador e gestor de políticas públicas, ao invés de tomar o papel menos intervencionista adotada por Lula", entende o diário.
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Na França, Dilma foi escolhida uma das 11 personalidades mais influentes do próximo ano pelo jornal La Tribune. O editorial volta a destacar, como também o fez o Parisien, o simbolismo da eleição de uma mulher, e afirma que "embora não seja a primeira mulher a presidir o destino de um país da América Latina, Dilma Rousseff é a primeira a coordenar o grande líder da região". Para o Les Echos, especializado em economia, Dilma terá de "frutificar e herança de Lula".
Já o Le Monde projetou os desafios da eleita: "Como toda iniciativa inacabada, a de Lula comporta sua parte de sombras, onde Dilma Rousseff enfrentará seus primeiros desafios", entende o maior diário francês, destacando o ensino medíocre, a saúde desigual, a violência das grandes metrópoles, a corrupção e o nepotismo e os problemas de infraestrutura que ameaçam a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Por sua vez, o espanhol El País se concentrou ontem sobre a cerimônia de posse, destacando o fato de que 11 ex-guerrilheiras da geração de Dilma estarão presentes. "Dilma Rousseff, a cuja cerimônia anunciaram presença representantes de mais de 130 países (...), quis ter ao seu lado, em lugar de honra, 11 amigas ex-guerrilheiras que compartilharam com ela o cárcere durante a ditadura militar", diz o jornal.
Apesar da ampla repercussão midiática, a posse não terá a presença de nenhum líder político dos grandes países europeus. O maior representante do continente deve ser o português José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.