A presidenta Dilma Rousseff criticou nesta terça-feira (12) o relatório pela admissibilidade da abertura de seu processo de afastamento na Câmara dos Deputados e o classificou de "maior fraude jurídica e política" da história brasileira. Sem citar diretamente os nomes, ela afirmou que o vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são os chefes do que ela chamou de golpe em curso contra seu mandato.
"O fato é que os golpistas que se arrogam à condição chefe e vice-chefe do gabinete do golpe estão tentando montar uma fraude para interromper no Congresso o mandato que me foi conferido pelos brasileiros. Na verdade, trata-se da maior fraude jurídica e política de nossa história. Sem ela, o impeachment sequer seria votado. O relatório da comissão de impeachment é instrumento dessa fraude. O relatório é tão frágil, tão sem fundamento, que chega a confessar que não há indícios, não há provas suficientes do que eles chamam de irregularidades e que tentam me atribuir. Pretendem derrubar sem provas e sem justificativa jurídica uma presidenta eleita por mais de 54 milhões de votos", afirmou Dilma, em discurso para uma plateia de estudantes e educadores no Palácio do Planalto.
A Comissão Especial do Impeachment da Câmara aprovou na segunda-feira (11) o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) pela admissibilidade da abertura do processo de afastamento da presidenta. Foram 38 votos a favor e 27 contra.
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A votação do parecer sobre a continuidade do processo de impeachment no plenário da Câmara deve começar sexta-feira (15) e se estender pelo fim de semana.
"Antes sequer da votação do inconsistente pedido de impeachment, foi distribuído um pronunciamento em que um dos chefes da conspiração assume a condição de presidente da República. O gesto que revela traição a mim e à democracia ainda explicita que esse chefe conspirador também não tem compromissos com o povo. Diz que é capaz de anunciar que está pensando em manter as conquistas sociais dos últimos anos. Como se conquistas sociais se pensasse se vai ou não manter. E avisa que será obrigado a impor sacrifícios à população. Com que legitimidade fará isso? É uma atitude de arrogância e desprezo pelo povo, do qual certamente tentará retirar direitos que, sem o golpe, seriam inalienáveis", afirmou.
Dilma referia-se ao vazamento de um áudio em que o vice-presidente Michel Temer fala como se o processo de impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara dos Deputados. No áudio, classificado por Temer como mensagem de "palavra preliminar à nação brasileira", o vice-presidente diz que precisa estar preparado para enfrentar os "graves problemas que afligem" o Brasil, caso os senadores decidam a favor do afastamento de Dilma. Ele lembra, porém, que a decisão do Senado deve ser aguardada e respeitada.
No comunicado, Temer pede a pacificação do país, diz que é preciso um governo de "salvação nacional", com colaboração de todos os partidos para sair da crise, e defende apoio à iniciativa privada como forma de gerar investimentos e confiança no Brasil.
A assessoria da Vice-Presidência da República informou que Temer ainda não ouviu o discurso de Dilma e que não poderia comentar as declarações da presidenta.