Diante de uma platéia reduzida e fria, composta por militares da reserva e associados da Fundação de Altos Estudos e Política Estratégica , o candidato da Coligação Grande Aliança à Presidência, José Serra, frisou por duas vezes que não tem ''duas caras''. Da mesma forma, insistiu que não quer construir a bomba atômica brasileira. Tanto no primeiro caso quanto no segundo, atacou o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar que o adversário ''tem pelo menos fases''.
- Tem o Lula e o Lulinha Paz e Amor. Eu espero que os dois rapidamente convirjam. Eu não tenho duas fases. Tenho uma vida coerente. Apresento minhas idéias, não há um novo estilo. Discuto os pontos, digo com clareza o que estou de acordo ou não. E o que espero é que o Lula faça essa convergência também, ou seja o PT real e o PT na TV - afirmou, logo após a palestra para os militares.
Durante a sabatina a que se submeteu para a mesma instituição a que Lula respondeu a argüição semelhante, semana passada, Serra pronunciou-se favoravelmente ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, do qual o Brasil é signatário. Enquanto o candidato petista foi aplaudido por ser contra a assinatura brasileira no documento, o presidente da Fundação, general Leônidas Pires Gonçalves, interrompeu o candidato do PSDB para esclarecer que a instituição que preside não está de acordo com os termos do acordo internacional.
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Na opinião do ex-ministro do Exército, o tratado não atinge seus dois objetivos, ''seja a promoção da paz, seja a transferência de tecnologia''. Opinião semelhante à de Lula, segundo entrevista concedida logo após a sua participação naquele fórum. Serra, porém, faz outra leitura da atitude do concorrente.
- Ele é contra o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, ou seja, é a favor que o Brasil faça a bomba atômica. Sou contra. Então, essa é uma questão a ser debatida - afirmou Serra, que defende um novo debate com o candidato da oposição.
Para os militares, Serra defendeu a profissionalização das Forças Armadas. Mas é a favor do serviço militar obrigatório, mesmo após admitir que não serviu ao Exército:
- Minha mãe não deixou. Sou filho único e ela não queria que eu saísse de casa - contou.
O candidato do governo também defendeu a ''diplomacia presidencial'' desenvolvida por Fernando Henrique Cardoso, perante uma platéia estática. Vários dos presentes aplaudiram entusiasmados, semana passada, o momento em que Lula criticou exatamente esta política desenvolvida por FH.
Outro ponto divergente entre os dois candidatos é a presença do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e a cessão de terras em Alcântara, no Maranhão, para os americanos instalarem uma base militar. Serra é favorável à inserção do país no bloco econômico liderado pelos EUA e pelo aluguel do terreno. Lula não somente é contra como garantiu que irá rever, caso seja eleito, o contrato de locação com o governo dos Estados Unidos.