Para todos os gostos
De uns tempos para cá, um filme que se apresenta com a marca da Casa de Cinema de Porto Alegre merece, no mínimo, uma conferida atenta. Os cineastas da Casa trabalham oficialmente juntos desde o final da década de 80, antes mesmo do (terrível) ''Carlota Joaquina'' (1995) sugerir a retomada do cinema brasileiro.
Hoje, mesmo com baixo orçamento e pretensões idem, a Casa talvez represente a principal experiência cinematográfica em terras tupiniquins desde a retomada até 2007. Na última sexta-feira, a Casa lançou ''3 eFes'' (100 min.) nas telonas de Curitiba e de outras Capitais. Simultaneamente, o filme também chegou em DVD, num canal aberto (do Rio Grande do Sul), num canal fechado (Canal Brasil) e também na internet (via portal Terra).
''3 eFes'', de Carlos Gerbase, não chega a ser tão bom quanto o hilário ''Saneamento Básico'', filme anterior da Casa (e assinado por Jorge Furtado, nome de destaque no grupo de cineastas), mas se confirma numa bem razoável safra gaúcha. O ruim fica por conta das atuações fracas da maioria dos atores, somadas a um apoio técnico característico de filme com pouco orçamento - dois constrangimentos capazes de fazer qualquer espectador adepto ao blockbuster sair correndo do cinema.
O começo lembra até o curta ''Ilha das Flores'' (1989) - clássico de Furtado, mas depois segue em ritmo ''normal'' para contar pequenas histórias rodeadas por três ''elementos'' centrais: fome, sexo e signo (aqui, algo como representação do real). O personagem central é Sissi (Cristina Kessler). Ela faz faculdade, trabalha no telemarketing e tem que sustentar o irmão pequeno e o pai, viúvo e desempregado. Ela está sempre tão sem grana que vive ''morrendo de fome'', até que, motivada pela amiga, tenta ganhar dinheiro em troca de sexo.
Ligada a Sissi, está sua tia Martina (Carla Cassapo), uma dona-de-casa entediada, em crise no casamento. Em troca de atenção, Martina começa a convidar William (Paulo Rodrigues), um catador de papel, para comer em sua casa. Ao mesmo tempo, o marido de Martina, Rogério (Leonardo Machado), resolve sobre ir para a cama com quem pode assegurar seu emprego. E os dilemas por aí vão. Narrativas simples, infelizmente pouco levadas às telonas, sobre pequenos dramas reais. ''3 eFes'' e a Casa de Cinema de Porto Alegre inovam na contramão de boa parte da produção do eixo Rio-São Paulo.