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Pai me conta uma história

05 ago 2004 às 11:00
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A magia do ato de se contar uma história não se resume à história
contada, mas ao próprio ato. É o momento em que a imaginação de
quem ouve - em geral seu filho - encontra na história contada um pouco
das milhares de informações que a humanidade traz desde o seu
aparecimento. Na maioria das vezes ações de cunho moral, de saber
viver e de como resolver os problemas práticos e filosóficos da vida. Uma
história banal de joãzinho e mariazinha carrega uma sabedoria de milênios
e já navegou por todos os povos da Terra. Histórias transmitem
segurança, conforto e trazem significado para nossas vidas. Por isso, por
mais cansado que você esteja após um dia de trabalho, conte uma
história para o seu filho. Se não puder inventar, leia. Mas não deixe de
fazer isso nunca.

A tradição da narrativa oral, por mais paradoxal que possa parecer,
começou a perder força com a invenção da imprensa por Gutemberg. Em
vez de se contar e escutar causos em volta do fogo o homem passou a
encontrar, a partir dos livros, as histórias escritas em papel. Ao mesmo
tempo em que a escrita tirava a força da oralidade das histórias com o
novo recurso da impressão elas se clonavam aos milhares. Foi-se a
técnica da voz e da presença e entrou a possibilidade da leitura. E assim
veio até os tempos mais recentes quando novas ferramentas entraram
novamente em cena: rádio, televisão e o cinema. Este último tendo em
Walt Disney a sua expressão maior. Foi ele o grande responsável pelo
renascimento das velhas historias européias, árabes e orientais e com
elas criou um repertório genial. Hoje, computadores produzem efeitos
especiais e repetem, adaptadas à sua maneira, as mesmas histórias que
os nossos antepassados contavam - Shreks, Galinhas e Nemos fazem o
encantamento das crianças. Mas, o seu filho poderá fazer quantos
replays quiser no DVD e assistir até a exaustão "A Era do Gelo" que
nada vai se comparar ao ato de você, ao lado da cama, num momento
de intimidade e aconchego contando um simples história "da baratinha"?

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Isto sim vai ficar na memória da criança para sempre. Da
"babá-eletrônica" ele não vai se lembrar muito.

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Foi na década de 70, em Londres, que uma emigrada afegã começou a
contar histórias para seus amigos em sua casa após as reuniões de
jantar. Estes começaram a trazer outros amigos para ouvir histórias, e o
movimento dispersou. Breve a casa da mulher era pequena demais para
tanta gente querendo ouvir antigas histórias. O curioso é que esse
renascer da oralidade da contação de histórias é simultâneo ao
surgimento dos efeitos especiais da computação. São as novas técnicas
disputando com as velhas os mesmos ouvidos e corações. Da casa da
afegã em Londres o processo se alastrou pelo mundo e há alguns anos
chegou com força ao Brasil. Pessoas interessadas começaram a se reunir
para recuperar o antigo modo da contação de histórias. Grupos, clubes e
casas de contadores se espalharam e, aliados aos trabalhos voluntários
prosperam a olhos vistos, ou melhor, a ouvidos escutados. Os primeiros a
ouvirem as histórias foram os pacientes de asilos, albergues, hospitais,
orfanatos e, é claro as escolas. Hoje já temos profissionais treinando
técnicas de narrativa, voz e postura, e pesquisadores buscando e
espalhando histórias pela Internet. A tradição da narrativa árabe e a Índia
com suas 480 mil histórias catalogadas são o grande celeiro de
inspiração.


Deixe a preguiça de lado e comece a contar histórias para os
seus filhos, sobrinhos e netos. Se achar que vai ser difícil lembre-se das
palavras de Cristo, um dos maiores contadores de histórias que o mundo
conheceu - "Vá, que na hora aprazada sua boca falará por ti".


Eloi Zanetti - publicitário - uns dos fundadores da Casa do Contador de
Histórias de Curitiba - autor do livro infantil O Nó do Afeto, entre outros.
[email protected]


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