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A alta da baixa gastronomia

02 fev 2006 às 11:00
Rollmops, tradicional petisco de "baréco" - Reprodução
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Boteco, no Brasil, sempre foi um lugar bem freqüentado, suas mesas já serviram de inspiração para grandes nomes da música, da literatura... etc. é só lembrar de como foi composta Garota de Ipanema, a música brasileira mais conhecida no Mundo. Isto sem falar nas inúmeras teorias e movimentos, que possivelmente nasceram de alguma divagação "botequiana". E como vocação de mesa é mesmo servir, as dos botecos agora servem para lançar mais uma moda no país dos modismos.
Não, você não errou de colunista, o assunto aqui continua sendo gastronomia. Portanto esqueça a Gisele Bündchen, até porque ainda não descobriram nenhuma forma de coexistência pacifica entre super modelos e comida, e vamos logo ao verdadeiro assunto deste texto, ou seja, ao leitor as batatas, e também o aipim com bacon, o bolinho de bacalhau e aquela gelada que ninguém é de ferro né?
Vai ser traumático, eu sei, mas não se espante se você chegar no bar do "Portuga" semana que vem, e descobrir que lá virou o novo point da galera descolada. O que não falta por ai, agora, são botequins metidos a besta. O tradicional bar pé sujo tirou o pé da lama, calçou as havaianas (que apesar de ser sandália também já esqueceu a humildade faz tempo) e virou o mais novo hype do momento gastronômico, tudo por causa da pitoresca e saborosa culinária de boteco.
Risoles de camarão, coxinha de galinha, empada, carne-de-onça, provolone a milanesa, salaminho, porções em geral... O cardápio é extenso e pode variar de acordo com a região, mas a uniformidade se dá pela simplicidade no preparo e a honestidade dos preços. Não há nada que defina uma autentica comida de boteco, o importante é ser saborosa, ir bem com cerveja e, de preferência, fazer mal pro coração.
Esse tipo de alimentação sempre esteve meio à margem da sociedade gastronômica, você, provavelmente, não conhece nenhum chefe que ficou famoso por preparar sua incrível porção de bolinho de aipim com carne seca. Mas agora as coisas mudaram, uma verdadeira horda de novos famintos está invadindo os tradicionais redutos da boemia, e conferindo aos petiscos de boteco o status de baixa gastronomia.
É sempre difícil definir quando, como e porque esses modismos começam, de repente você percebe uns indícios aqui, uma tendência ali e quando se da conta já é moda, ou como dizem agora, hype. É assim no mundo das passarelas e também no das panelas, quer um exemplo? A uns dez anos era raro encontrar restaurantes japoneses fora da cidade de São Paulo, hoje em dia tem sushi até em festa junina, ali, entre a barraquinha da pamonha e a da cocada.
Aliás, esse negócio de hype é bem a cara de paulista mesmo, ou vai dizer que palavras como delivery, motoboy e night se popularizaram no colóquio nacional por influência das gírias faladas entre as rendeiras de juazeiro do norte.
Mas talvez, tenha sido, justamente, na terra do "chopis" com pastel, que começou toda essa história de valorização da baixa gastronomia. Mais especificamente na revitalização do tradicional Mercado Municipal de São Paulo, e seus muitos boxes especializados no melhor tipo de fast food que existe, a de boteco.
Bastou jogar uma tinta nas paredes do antigo barracão para que da noite pro dia os paulistanos descobrissem um verdadeiro templo gastronômico bem no centro da cidade. O maior ícone desse fenômeno é o sanduíche de mortadela do Bar do Mané, que numa escalada astronômica, digna de causar inveja a qualquer chef 3 estrelas, ganhou notoriedade, ficando conhecido no país inteiro.
Além de se tornar atração turística e um dos símbolos da gastronomia paulistana, o sanduíche de mortadela do Mané também virou o exemplo a ser seguido por todos os outros quitutes emergentes de boteco, é o pobre que deu certo. Aproveitando-se dessa repentina popularidade, alcançada pela baixa gastronomia, vários proprietários de bares antigos e tradicionais, deram uma recauchutada nos estabelecimentos e embarcaram nessa nova onda, com o intuito de atrair um público novo e esfomeado.
Contudo para garantir o sucesso nesses novos tempos é preciso manter as origens, pois é justamente o ambiente, muitas vezes, decadente desses bares, que lhes emprestam toda uma atmosfera nostálgica e charmosa. Além disso, para atrair os "moderninhos" o cardápio também precisa respeitar certas regras, nada de se empolgar e partir para pratos rebuscados e sofisticados, pois a graça dessa brincadeira está mesmo no caráter despretensioso e frugal, próprio da autentica comida de boteco.
O cult para essa moçada que anda freqüentando botecos antigos e decrépitos, é sentar-se ao redor de uma mesinha de ferro de armar, daquelas com a logo da malta 90 estampada, pedir algumas cervejas e saborear todas aquelas guloseimas que os médicos desrecomendam e as mães alegam que estragam o apetite.
Até quando isso vai durar? Acabará o X-pernil nas mesas da alta sociedade? Impossível dizer, pois se já é difícil saber como começa os modismos, saber como terminam então... De repente somem, igual aquela porção de fritas que você pediu antes de ir ao banheiro.
O que resta, é esperar pra ver onde essa tendência vai dar. Pra infelicidade dos donos de bares velhos e tradicionais, provavelmente, vai passar como qualquer outro modismo. Portanto, se você é freqüentador das antigas, e já não agüenta mais essa moçada barulhenta no seu bar, tanto que andou pensando até em apelar para a pinga com ovo colorido e rollmops nos "barécos" da periferia, espere mais um pouco. Logo eles descobrem uma nova mania, e você volta pra sua antiga.


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Como comida de boteco que se preze não pode ser reproduzida em casa, tem que ser degustada in loco, essa coluna não vai ter receita, mas não é por isso que você vai ficar fora de moda.

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- Bar do Mané - Mercado Municipal de São Paulo. Rua E, Box 14. Rua da Cantareira, 306 - Centro. Segunda, das 6h às 17h. De terça a sábado, das 4h às 17h. Domingo, das 8h às 14h. Além do já, aclamado, exaltado e supracitado sanduíche de mortadela, vencedor de vários concursos de comida de boteco, o bar também serve vários outros pratos, igualmente saborosos e tradicionais. Sempre contando com o atendimento simpático do Seu Mané, proprietário do bar, e que trabalha no mercado dês de sua inauguração em 1933.


- Bar do Pudim - Praça do Redentor, 322 (Praça do Gaúcho). São Francisco, Curitiba - PR Segunda a sexta das 10h à 1h, e sábados das 11h às 22h. Bar tradicional de Curitiba, reduto de jornalistas e comunicólogos em geral. Conta com um cardápio típico de bar, com destaque para o "pão com bolinho", o "frango sujo" e, claro, o pudim de leite, justificando o nome do bar.

- Box 32 - Mercado Municipal de Florianópolis - Box 32. Segunda à sexta, das 10h às 21:30h. Aos sábados, das 10h às 15h. Não abre nos domingos e nos feriados nacionais. Um dos lugares mais encantados da "Ilha da Magia" serve tanto pratos típicos de boteco quanto opções mais sofisticadas, além de oferecer uma linha de produtos próprios que podem ser levados pra casa.


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