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Comida para viagem

24 ago 2007 às 11:00
Mulher mongol com seu filho, ele ainda vai comer muito queijo de iaque. - Reprodução
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Diz a história, ou quem sabe seja a lenda, que o Brasil foi descoberto porque os portugueses tentavam encontrar uma nova rota para Índia. E por que eles queriam tanto ir para Índia? Pra comprar comida, na verdade especiarias, que servem para que? Temperar comida.

Outra estória conhecida é a da descoberta do macarrão por Marco Polo, que supostamente levou a famosa massa à Itália pela primeira vez. E se quisermos ir ainda mais longe basta recorrer à origem da nossa civilização, os nômades que não faziam outra coisa a não ser viajar por comida.

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É parece ser o nosso destino inevitável, sair pelo Mundo afora para satisfazer a nossa gula. Hoje em dia chamam isso de turismo enogastronômico, mas como podem ver é um hábito antigo do ser humano. E há povos que ainda hoje preservam isso como tradição, é o caso de algumas tribos mongóis.
Relutantes ao progresso, a geladeira e ao delivery, elas passam suas vidas viajando sobre seus cavalos em busca de comida. Como no caminho não encontram muitas estações de serviços, também têm o hábito de carregar algo pra ir beliscando. Bem pelo menos foi isso que me disse uma espanhola que conheci em Paris e que tinha um irmão vivendo entre mongóis.

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É claro que eu não duvidei, mas ela fez questão de que eu provasse uma dessas iguarias. Um pedaço de queijo que seu irmão tinha enviado por correio direto da Mongólia. Quando pensei na distância entre os dois países e na eficiência dos correios mongóis, confesso que a imagem que veio a cabeça do tal queijo não foi das melhores, algo que pude comprovar durante a degustação. Na verdade parecia-se mais com um pedaço de rapadura, tanto no aspecto quanto na textura, o gosto lembrava leite azedo e parecia ser realmente bastante nutritivo, ou por que mais alguém comeria aquilo?

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Tudo bem, talvez esteja exagerando um pouco, mas pense nisso. Como um brasileiro pode comer tranqüilamente um pedaço de queijo mongol sabendo que ao lado vende-se Brie e Camembert a preço de bananas? Mas Paris é assim mesmo, um brinde a diversidade. E segundo especialistas ainda é o lugar onde melhor se come no Mundo e também o que recebe o maior número de turistas famintos. Obviamente, especialistas em comida não viajam para Paris de mochila, com orçamento limitado e tendo que converter seus parcos reais para pagar cada uma das refeições.


Bom, eu sim fiz isso, e posso dizer que quase me tornei um especialista em comer mal em Paris. Pois é, isso é possível e até bem provável que aconteça caso você seja um brasileiro viajando por Paris, já que 90% dos compatriotas que encontrei por lá estavam no Chez Mcdô, apreciando o clássico Le Big Mac.

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Mas, se além de pouco dinheiro você também tem aquele espírito gourmand aventureiro, saiba que a pátria mão dos gulosos sabe recompensar aqueles filhos mais dedicados que percorrem incansavelmente suas ruas em busca de um bom plat du jour. Foi assim que cheguei ao Chez Prosper, uma mistura de brasserie com bistrô que fica perto da Place la Nation. Lugar simples, sempre muito cheio que prática uma culinária francesa clássica com preços baixos, e o principal para os glutões, porções muito grandes.


Além disso, se você arrisca em francês algumas palavras além dos básicos bonjour e merci, pode tentar se comunicar com um parisiense. Eles são um pouco arredios, mas quando questionados sobre comida, sentem a obrigação moral de salvar outra pobre alma do limbo gastronômico. Sim, para os franceses uma boa recomendação culinária é mais que um dever cívico, é quase uma missão sagrada. Apenas reconheça sua condição de pecador e prometa nunca mais recusar o queijo depois da refeição.

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Foi assim que convenci um parisiense a me indicar seu restaurante predileto, e que ainda por cima era barato. O Chez Gladine é um restaurante de comida basca que fica no histórico quartier de Buttes aux Cailles. Mais uma vez pratos fartos e baratos num lugar muito bonito ao qual eu nunca chegaria por conta própria. Fica meio afastado das principais atrações de Paris, e você percebe isso facilmente porque pode andar várias quadras sem aparecer nas fotos dos japoneses.


Bom, melhor ir parando por aqui, já que minha viagem foi longa e Paris foi apenas o começo da saga européia em busca de autenticas experiências gastronômicas. Claro que nem sempre essas experiências foram bem sucedidas como poderão ver nos próximos capítulos. Mas posso garantir que sempre mantive o espírito aventureiro e guloso, aquele mesmo que levou Marco Polo a descobrir o macarrão, Cabral a descobrir o Brasil e você a descobrir o melhor X do centro.

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Em tempo, também prometo não demorar mais tanto para escrever.


Acompanhamentos:

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Bom nada melhor que um bom livro para matar o tempo durante aquelas intermináveis horas de viagem. Por isso, recomendo que leiam Fome de Paris – Memórias de um Gourmet Apaixonado. Escrito em 1962 pelo famoso jornalista da The New Yorker, A.J Liebling, é um livro que retrata a busca incessante de um guloso pelo salmis de galinhola ao Armagnac nosso de cada dia. Ah, antes que me esqueça há um erro na tradução em português lançada pela Ediouro. Na página 124 o tradutor se refere ao Pont-l’Éveque como se fosse uma bebida, e na verdade é um dos queijos mais famosos da Normandia.


Aproveitando que estamos no tema recomendação, dêem uma olhada no Guia Veja Curitiba 2007. Este ano fui um dos jurados na categoria comidinhas.

Blog:
Se você gosta do que lê aqui, visite meu blog. Agradecemo a preferência.
http://aremolachas.blogspot.com/


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