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Memórias das minhas panelas tristes

07 abr 2006 às 11:00
Sopa de tomates Campbell's, quando os enlatados ainda eram inofensivos - reprodução
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Não sou saudosista, até costumo admirar os avanços, sobretudo os tecnológicos. Ainda assim, estou longe de me considerar "novidadeiro". E em certas questões, eu não passo mesmo é de um conservador.
Comida, esse é um terreno onde a novidade nem sempre é bem vinda. Acho perigosa essa mania, que muita gente tem, de achar que tudo precisa se modernizar. Olha que nem estou falando das ousadias dos jovens chefs, essas eu até entendo e aprovo como forma de experimentação artística, o que me preocupa é a perda dos velhos valores, os "bons modos à mesa".
Sei que não estou nesse ramo de comensal a muito tempo, mas nessas pouco mais de duas décadas, já comi o suficiente para minha memória gustativa saber diferenciar o joio do trigo.
Da infância guardo ótimas lembranças alimentares. Mas me fazem saudades, sobretudo as das férias no interior, onde além de comer a verdadeira comida típica brasileira, podia-se ouvir ao longe o clássico cancioneiro popular que lembrava: "...panela velha é que faz comida boaaaa...".
Hoje, não sei o que se ouve por lá, mas sei que o que se come não é mais a mesma coisa. Os grandes e cheirosos pães caseiros há muito foram substituídos pelos insossos e fatiados pães de fôrma. Ninguém mais quer saber com quantos limões se espreme uma limonada, preferem a praticidade e a gastrite dos refrigerantes de sabores artificiais e cores tóxicas.
Parece rabugice, mas a verdade é que a falta de tempo, o tão afamado corre-corre do dia-a-dia, acabou por sacrificar o paladar, em nome da praticidade. Não bastasse a invasão do fast food que, muitas vezes, é a (pior) opção de quem precisa comer na rua, os lares, antigos redutos da comida caseira, saborosa e saudável, também têm sofrido as conseqüências dessa involução nos modos alimentares.
Eu sei que é meio paradoxal, mas parece que quanto mais se desenvolve a industria alimentícia, piores ficam os índices de nutrição da população média. Os alimentos industrializados, embora muito práticos, estão longe de serem nutritivos. Sem falar que, em termos de sabor, ficam muito aquém daquele gostinho especial que só a "comidinha da mamãe" tem.
Já faz tempo que os alimentos industrializados chegaram. Eles traziam a promessa de auxiliar as donas de casa na árdua tarefa de conciliar suas outras obrigações com o preparo das refeições familiares. De fato, muitos desses produtos se mostraram tão eficientes que acabaram incorporados aos hábitos alimentares nacionais, tais como os caldos em cubos, os molhos prontos e os demais alimentos enlatados.
Contudo, enquanto esse tipo de alimento se limitava a figurar como ingrediente em uma ou outra receita, mantinha-se ainda um certo padrão "caseiro" nas refeições familiares. O problema é que os enlatados e sua turma ascenderam de categoria e agora, muitas vezes, são a própria refeição.
Dos congelados, rapidamente preparados com o auxilio do microondas, aos macarrões instantâneos, que não demoram mais do que três minutos pra ficarem prontos (mas tem um cheiro que parece que nunca mais vai deixar sua cozinha), os alimentos industrializados se alastram pelos cardápios das famílias.
Dessa forma, em poucos anos corremos o risco de ter uma geração que não saberá mais cozinhar o preparo das refeições. Mesmo as mais simples e triviais, como o brasileiríssimo arroz com feijão, ficará a cargo de cozinheiros profissionais ou amadores, que cozinham por hobby.
Claro que essa é uma previsão pessimista, mas o fato é que as mães de hoje já não cozinham como as avós, e as filhas..., bem as filhas preferem ligar e pedir uma pizza. E antes que comecem a me taxar de machista, insisto que sou apenas apegado a certas tradições, sobretudo as gostosas, como aquele almoço de domingo preparado em casa, cheio de aromas e sabores de lembranças.


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