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Mãos de Cavalo - Daniel Galera

27 nov 2007 às 11:00
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Um ciclista corre risco e calçadas por Porto Alegre. Cai e se machuca. Corta.

Um homem de 30 anos, casado, pai de uma menina e que gosta de escalar. Vemos ele ser convencido por um amigo a subir uma montanha inexplorada na Bolívia. Corta.

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Campinho de futebol, gurizada de 15-16 anos. Cada um com seu apelido esquisito. Chegamos a Hermano, o mãos de Cavalo que comete uma entrada violenta contra um adversário. Corta e volta pra história do homem de 30.

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Opa!
Temos aqui alguma coisa pra prestar atenção.
Um personagem com apelido de nome de livro quer dizer "coisa". Ainda mais se o livro for esse que temos nas humanas mãos.

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Até aqui foram umas 50 páginas de Mãos de cavalo, segundo romance escrito por Daniel Galera e lançado em 2006 pela Companhia das Letras.

O primeiro romance do cara, Até o dia que o cão morreu, virou o filme Cão sem dono, dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca, com roteiro dos dois e de Marçal Aquino. Foi esse livro, por conta da divulgação do filme baseado nele, que espalhou um pouco mais o nome de Galera por aí.

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Um dos editores da Livros do Mal (com Guilherme Pilla e Daniel Pellizzari), Galera com apenas dois romances já é um autor de prestígio.

Não sem méritos. Sem chamativas invenções e novidades formais (o que não é bom, nem ruim, apenas é), a sensação ao final do livro é de um trabalho bem-feito, com uma linguagem extremamente adequada ao que se pretende.

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O narrador é em terceira pessoa, muito próximo ao personagem principal de cada um dos capítulos. Esse narrador é bastante importante na estrutura do livro, pois apresenta a montagem de uma personalidade masculina.

Aliviado dos clichês, há uma recuperação da adolescência na fase adulta e uma preparação para a fase adulta enquanto o personagem é adolescente. As questões, as idéias, as dúvidas, os interesses. Tá tudo lá, no texto.

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Existe também no texto uma quedinha comum no protagonista de cada capítulo pelos tombos.

Mas peraí, vou falar aqui sobretudo de dois aspectos em Mãos de cavalo.

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1) a passagem do tempo na história.

O texto se divide essencialmente em dois eixos: o adolescente Hermano, com o gracioso apelido de Mãos de cavalo, e um cirurgião plástico de 30 anos. O ritmo das duas narrativas e o intervalo entre os capítulos delas é diferente.

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Na parte da história de Hermano, a passagem do tempo é rápida, e os acontecimentos muitos. O salto entre um capítulo e outro desse eixo representa dias, semanas, meses.

Já na parte do médico, temos no livro todo não mais do que duas horas de acontecimentos (cronometrada pelos títulos dos capítulos). Tudo acontece na mente do personagem. Atitudes que deveria ter tomado, lembranças, perguntas.

Com o desenvolvimento da história, os dois eixos se aproximam, até se relacionarem completamente, quando há o enterro do adolescente e o planejamento para o adulto. É como se o um eixo narrativo se apressasse para alcançar o outro.

Aqui vou pro 2) a formação da personalidade masculina

Acho que o ponto forte da obra está aqui: a criação da personalidade masculina no livro. O adolescente, aquele híbrido com interesses que abrangem jogos de computador, pensar no próprio futuro e na irmã mais nova do amigo, angustiado pelas muitas possibilidades e tudo passando tão rápido.

O adulto, aquele arrependido, angustiado pelas possibilidades que diminuem, que se arrepende do que fez e do que poderia. Tudo é lento, pois ele sente intensamente cada um daqueles pequenos momentos.

Os protagonistas de cada capítulo sonham com o heroísmo, sentem o peso das oportunidades desperdiçadas, mas não há superação. As dúvidas são trocadas por outras e poucas atitudes tomadas. E aqui temos a formação da identidade desse homem de classe média brasileira.

E são essas situações universais que formam o personagem. Mas o cheirinho é de Brasil.

Depois de tantos anos lendo a construção de personalidade de personagens, que embora também universais, eram basicamente europeus ou norte-americanos, temos algo nacional.

Determinadas situações do texto só poderiam acontecer a um brasileiro (e não falo aqui nem de ginga, nem de malemolejo). E mais: a um brasileiro que vivesse no sul do país.

Longe de contestar a legitimidade, por exemplo, das identidades de personagens regionalistas de 30, mas me sinto mais próximo de Hermano. Meu mundo, minha infância e minhas memórias são essas. A identificação entre a formação do personagem e a minha é maior.

Mas não é apenas por essa identificação que sugiro a leitura de Mãos de cavalo – até por que um livro não atinge os leitores do mesmo modo.

Até por que um bom livro é recomendável por si mesmo.

Linque para baixar Dentes guardados, primeiro livro de Daniel Galera: http://galera.livrosdomal.org/

Leituras relacionadas: Até o dia em que o cão morreu (Daniel Galera), Febre de bola (Nick Hornby), Minha vida (Robert Crumb), e Norwegian Wood (Haruki Murakami).


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