Os caras do Los Hermanos são chatos. Em entrevistas, ficam com aquela eterna expressão de má vontade. Quando perguntados sobre influências em sua música, respondem coisas vazias como: "Somos influenciados por tudo, desde um filme até uma história contada pelo meu avô". E parece que recentemente adotaram o detestável hábito de gravar as próprias entrevistas – como que para se certificar de que o amigo jornalista não vai "distorcer" nada do que eles falaram.
Talvez os Hermanos ainda gravem um disco à altura de toda essa chatice. Esse dia ainda não chegou. "4" (Sony BMG), que chegou às lojas na semana passada, é mais uma afirmação de que não existe banda melhor neste país. Nem mais corajosa: guardadas as devidas proporções, o novo álbum representa em relação a "Ventura" (2003), o disco anterior, a mesma coisa que "Bloco do Eu Sozinho" (2001) foi para "Los Hermanos" (1999).
Trata-se de uma negação da unanimidade, uma traição das expectativas. Embora contivesse algumas canções introspectivas, "Ventura" ficou marcado pelas músicas mais agitadas e/ou solares, como "Cara Estranho", "O Vencedor", "Último Romance". "4", por sua vez, soa melancólico, solitário, solene. Os arranjos são enxutos, minimalistas; as melodias, tortuosas, do tipo que demoram para grudar na cabeça. Há poucos refrões, e quando eles comparecem, raramente demonstram vocação radiofônica. Pouca coisa para ser berrada em shows, como gostam de fazer os adolescentes que descobriram a banda ontem.
As composições de Marcelo Camelo traduzem mais claramente esse espírito retraído, com muitos vocais sussurrados e alusões à MPB ("Dois Barcos", "Sapato Novo", o samba "Fez-se Mar"), lamentações tímidas, desespero silencioso. A angústia do cantor fica mais exaltada apenas em três momentos: em "Horizonte Distante", rock com timbres épicos e o único refrão adesivo do álbum, nas guitarradas que espelham a dor da letra em "Pois É" e na explosão de barulho em "É de Lágrima", canção magistral que encerra o álbum. Nesse oceano de tensão mais ou menos contida, só há alívio na doce "Morena", singela declaração de amor: "prefiro assim com você, juntinho/ sem caber de imaginar/ até o fim raiar".
As músicas de Rodrigo Amarante são levemente mais expansivas e diminuem ainda mais a distância entre o padrão de qualidade das composições dele e o de Camelo. Excetuando-se o balanço para gringo ouvir de "Paquetá", o Ruivo acerta todas: recria a faceta mais sutil do Sonic Youth na excelente "Primeiro Andar", brinca de Portishead em "Os Pássaros", atenua o clima cinzento do restante do álbum com a empolgada "O Vento" e assinala que o Los Hermanos ainda tem uma faceta barulhenta na rasgada "Condicional", cujos últimos segundos lembram "Cara Estranho".
É difícil imaginar qualquer faixa de "4" virando hit, mas isso pouco importa. Fãs e imprensa vão tentar pateticamente comparar o novo álbum aos anteriores e não é esse o ponto – os Hermanos tentaram fazer diferente, abrir uma ilha em sua discografia, o que denota uma visão da própria carreira incomum dentro do pop brasileiro, onde a mesmice e a preocupação com as vendagens imperam. Se continuarem compondo canções tão emocionantes como sua vontade e capacidade de se reinventar, os barbudos podem ser chatos à vontade.
Talvez os Hermanos ainda gravem um disco à altura de toda essa chatice. Esse dia ainda não chegou. "4" (Sony BMG), que chegou às lojas na semana passada, é mais uma afirmação de que não existe banda melhor neste país. Nem mais corajosa: guardadas as devidas proporções, o novo álbum representa em relação a "Ventura" (2003), o disco anterior, a mesma coisa que "Bloco do Eu Sozinho" (2001) foi para "Los Hermanos" (1999).
Trata-se de uma negação da unanimidade, uma traição das expectativas. Embora contivesse algumas canções introspectivas, "Ventura" ficou marcado pelas músicas mais agitadas e/ou solares, como "Cara Estranho", "O Vencedor", "Último Romance". "4", por sua vez, soa melancólico, solitário, solene. Os arranjos são enxutos, minimalistas; as melodias, tortuosas, do tipo que demoram para grudar na cabeça. Há poucos refrões, e quando eles comparecem, raramente demonstram vocação radiofônica. Pouca coisa para ser berrada em shows, como gostam de fazer os adolescentes que descobriram a banda ontem.
As composições de Marcelo Camelo traduzem mais claramente esse espírito retraído, com muitos vocais sussurrados e alusões à MPB ("Dois Barcos", "Sapato Novo", o samba "Fez-se Mar"), lamentações tímidas, desespero silencioso. A angústia do cantor fica mais exaltada apenas em três momentos: em "Horizonte Distante", rock com timbres épicos e o único refrão adesivo do álbum, nas guitarradas que espelham a dor da letra em "Pois É" e na explosão de barulho em "É de Lágrima", canção magistral que encerra o álbum. Nesse oceano de tensão mais ou menos contida, só há alívio na doce "Morena", singela declaração de amor: "prefiro assim com você, juntinho/ sem caber de imaginar/ até o fim raiar".
As músicas de Rodrigo Amarante são levemente mais expansivas e diminuem ainda mais a distância entre o padrão de qualidade das composições dele e o de Camelo. Excetuando-se o balanço para gringo ouvir de "Paquetá", o Ruivo acerta todas: recria a faceta mais sutil do Sonic Youth na excelente "Primeiro Andar", brinca de Portishead em "Os Pássaros", atenua o clima cinzento do restante do álbum com a empolgada "O Vento" e assinala que o Los Hermanos ainda tem uma faceta barulhenta na rasgada "Condicional", cujos últimos segundos lembram "Cara Estranho".
É difícil imaginar qualquer faixa de "4" virando hit, mas isso pouco importa. Fãs e imprensa vão tentar pateticamente comparar o novo álbum aos anteriores e não é esse o ponto – os Hermanos tentaram fazer diferente, abrir uma ilha em sua discografia, o que denota uma visão da própria carreira incomum dentro do pop brasileiro, onde a mesmice e a preocupação com as vendagens imperam. Se continuarem compondo canções tão emocionantes como sua vontade e capacidade de se reinventar, os barbudos podem ser chatos à vontade.