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O disco do ano?

24 set 2004 às 11:00
O quarteto nova-iorquino Interpol: canções românticas, desesperadas e melancólicas - Reprodução
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Pois se passaram dois anos, que mais pareceram duas décadas, e o tal do novo rock já começa a dar sinais de cansaço. Alguns de seus nomes mais incensados, Strokes, Vines e Trail Of Dead, não foram capazes de romper a barreira que separa a badalação da crítica do sucesso comercial, e amargaram vendas decepcionantes de seus últimos álbuns. O único realmente bem sucedido foi o White Stripes, que ameaça acabar. Novatos que se recolheram ao estúdio para gravar discos novos precisam voltar correndo, ou vão ser esquecidos: Kings Of Leon, Hot Hot Heat. E os picaretas da seara já há muito se instalaram: Rapture, Yeah Yeah Yeahs, Jet.

Com a laureada retomada roqueira ameaçando expirar a validade, os representantes da tendência que soltaram discos em 2004 se viram isolados – posição inusitada, visto que há menos de dois anos era impossível citar qualquer uma dessas bandas sem fazer referência às outras. O Hives soltou o ótimo "Tyrannosaurus Hives", já resenhado nesta coluna. O Interpol lança no início da próxima semana "Antics" (Matador Records – importado).

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O segundo álbum do quarteto nova-iorquino seria capaz de igualar o feito do White Stripes? Transformar o chamado novo rock também num sucesso de público, e não apenas de crítica, como muitos torcem e muitos mais conspiram contra? É impossível dizer. "Antics" é um disco menos gélido e vidrado nos anos 80 que seu antecessor, o belo embora inconstante "Turn On The Bright Lights" (2002), mas os alicerces sonoros do Interpol seguem sem rachadura: amarás o pós-punk sobre todas as coisas, na versão britânica da coisa (The Cure, Echo & The Bunnymen, Joy Division).

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A diferença essencial é que estas dez canções são mais passionais e ternas, como se realçassem, tal como uma câmera que reforça fontes de luz num ambiente escuro, os momentos mais românticos, desesperados, melancólicos e sentidos de "Turn On..." ("PDA", "NYC", "Obstacle 1"). No mínimo, é um conjunto conciso, quase perfeito de músicas - apenas "Take You On A Cruise" e "Length Of Love" destoam levemente do alto nível do repertório.

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As letras de Paul Banks seguem predominantemente abstratas, o que as torna especialmente tocantes quando o vocalista decide ser direto: "será que você não consegue ver o que fez ao meu coração e à minha alma?/ eles são uma terra devastada agora", acusa "Slow Hands". "O problema é que você está apaixonada por outra pessoa", lamenta "C’mere", que pranteia o mais clichê dos medos do homem que deseja alguém.


A música acompanha essas palpitações líricas: o baixista Carlos D e o baterista Samuel Fogarino mantêm silêncios para poucos segundos adiante cravarem os dentes conforme os espasmos dos vocais e os tons menores da guitarra de Daniel Kessler. Na tensão do riff de "NARC", na linha de baixo antológica de "Evil" ou na aceleração ameaçadora que é imprimida ao refrão de "Public Pervert", o Interpol apresenta credenciais para ser saudado como uma das melhores bandas do rock atual. Não é nada novo. Mas ser sublime é sempre mais difícil do que ser original.

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LANÇAMENTOS


The Ponys – "Laced With Romance" (In The Red – importado)

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Esta bandinha de Chicago faz rock inspirado em mestres da economia, como Velvet Underground e Jesus & Mary Chain, mas sob um viés mais punk (há influências explícitas dos Voidoids) e garageiro – eles usam o tradicional órgão Farfisa – do que propriamente indie. "Laced With Romance" é visceral e dançante, mas enjoa por possuir músicas parecidas demais entre si, complicador relevante considerando-se que a concorrência no rock atual é grande. Tentam muito e atingem a perfeição apenas em um momento: a lânguida "I Love You ‘Cause (You Look Like Me)", que traz a melodia e os vocais mais insinuantes do ano. É pouco.
Para quem gosta de: Futureheads, Velvet Underground sem John Cale, Richard Hell and The Voidoids.


Arnaldo Baptista – "Let It Bed" (Revista Outracoisa)

"Let It Bed" é teste para resenhista. É um disco que merece ser analisado a partir do currículo do autor, que foi mentor dos Mutantes e uma das figuras mais importantes do rock brasileiro, ou deve ser estudado apenas como obra em si? Deve-se considerar o fato de que se trata de registro histórico, visto que é o primeiro álbum de Arnaldo desde os anos 80, ou tal comoção deve ser desprezada? O estado mental do cantor e compositor, que ainda sofre as seqüelas de ter se jogado da janela de um hospital, é algo a ser levado em conta ou o resenhista não pode se dar ao luxo de ser piedoso? Se "Let It Bed" viesse sem encarte e sem revista para alardear os talentos de Arnaldo, você pensaria que o disco não passa de um amontoado nada memorável de ruídos, peças musicais experimentais, letras bobas e vocais vacilantes. Se você for um dos adeptos da teoria de que os Mutantes foram tão bons quanto ou até melhores do que os Beatles, talvez consiga escutar "Let It Bed" duas vezes. Se você for menos entusiasmado, é improvável que consiga completar a primeira audição.
Para quem gosta de: Mutantes, Mutantes e Mutantes.


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