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Os últimos dinossauros

03 dez 2004 às 11:00

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Michael Stipe, do R.E.M., decepciona novamente com disco cheio de baladas - Reprodução
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Entre as várias lições que os Beatles deixaram para a música pop, uma é fundamental: bandas de rock têm que ter hora para acabar. Nunca existiu um grupo dentro do estilo que manteve a criatividade em alta vinte anos após ter dado os primeiros passos. U2 e R.E.M., que estão com discos novos na praça, não são exceção. Os fãs saúdam com entusiasmo a chegada dos CDs fresquinhos às prateleiras, mas no fundo sabem que a banda de Bono Vox não lança um grande álbum desde "Achtung Baby" (1991), e que a de Michael Stipe está na seca desde "Automatic For The People" (1992).

"How To Dismantle An Atomic Bomb" (Universal), que no seu lançamento no Brasil se viu envolvido numa polêmica idiota – a gravadora colocou na contracapa o nome de uma música que não está no CD -, é uma continuação do anterior, "All That You Can’t Leave Behind" (2000), que foi considerado uma volta às origens do U2. Ao menos à formatação básica da banda: guitarra, baixo, bateria e eventuais teclados, com os efeitos eletrônicos que invadiram o som do quarteto nos anos 90 deixados de lado.

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Nas primeiras audições, a primeira coisa que vem à mente é uma entrevista concedida por Bono durante as gravações, em que o vocalista defendeu que "How To Dismantle..." seria pesado, com foco nas guitarras de The Edge. Balela: à parte o primeiro single, "Vertigo", que emula de forma patética a euforia infantil da também ridícula "Elevation" (do disco anterior), e a setentona "Love And Peace Or Else", o álbum é cheio de baladas. Algumas programadas para virar hit de FM ("Sometimes You Can’t Make On Your Own"), quase todas metidas a épicas ("A Man And A Woman", "Crumbs From Your Table").

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Entre a desencanação fingida de "Vertigo" e a choradeira – Bono fez uma carreira como baladeiro ao tentar eternamente reescrever "Heroes", a melhor música da carreira de David Bowie -, o U2 é flagrado na mesma sinuca em que está metido desde o início da década passada: perdido entre a ironia e o messianismo, entre sorrisos maliciosos e melancolia derramada. "How To Dismantle..." não é ruim. Sofre apenas da síndrome de irrelevância.

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O R.E.M., apesar de separado por um oceano do U2, tem história parecida com a da banda irlandesa: despontou no início da década de 80 com pós-punk básico e um vocalista carismático com pinta de guru, e após atingir sucesso planetário se meteu em experimentos sonoros nem sempre bem recebidos. "Around The Sun" (Warner), o terceiro álbum após a saída do baterista Bill Berry, repete as falhas de seus antecessores, com proeminência de baladas, tristeza ensaiada e redundância melódica.


O single "Leaving New York" e "Wanderlust" são meras recriações de momentos do pouco inspirado "Reveal" (2001), e boa parte do resto do repertório padece exatamente dessa remissão ao passado recente. Há lamentação em excesso, vibração escassa e uma discrição inexplicável do (bom) guitarrista Peter Buck. Ainda assim, há três momentos de empolgação, na fúnebre "The Outsiders", que vai bem até ser interrompida pela ladainha de um rapper zé-ninguém, a balada quase country "Final Straw", que resume a linha política anti-Bush do disco, e a folk "I Wanted To Be Wrong", valorizada por u-hu-hus belíssimos.

É pouco. No todo, "Around The Sun" é arrastado, repetitivo e sem sal, e os vocais de Stipe – torturados demais -, que outrora salvavam a lavoura, agora contribuem para o naufrágio. O U2 e o R.E.M. são dois dos últimos representantes de uma espécie em extinção, a mega-banda de rock, que está sendo dizimada pela abundância de novidades da era do mp3, pela superioridade mercadológica do pior gênero musical de todos os tempos, o rap, e pelo discurso anti-estrela dos alternativóides. Mas, assim como acontece com os Rolling Stones, Bono e Stipe obviamente só estão nesta posição pelo que fizeram no passado. A cada novo disco, estão perdendo a oportunidade de deixar mais boas lembranças do que más na memória de suas platéias.


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