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08 abr 2005 às 11:00

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Apesar da meticulosidade na escolha das canções citadas, livro é despretensioso - Reprodução
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Não existe pessoa confiável no mundo que um dia não tenha desejado fazer parte de uma banda de rock. A maioria dos seres humanos, claro, não consegue realizar essa vontade – enquanto alguns frustrados descarregam suas mágoas fazendo resenhas de discos e shows (se a idéia de que este colunista se encaixa na referida categoria veio à sua mente e despertou risinhos em você, leitor, favor mandar as piadinhas e os xingamentos de sempre pela caixa de contatos), Nick Hornby se contenta em escrever. "Escrevo livros porque não sei compor canções", é uma frase que pode ser lida mais de uma vez em "31 Canções", recém-lançado no Brasil pela Rocco.

Hornby, que vai completar 48 anos no próximo dia 17, é um escritor bem sucedido o suficiente para que sua editora aceite publicar uma coletânea de artigos subjetivos, passionais e idiossincráticos sobre canções pop. O autor de "Alta Fidelidade", é óbvio, sabe que tem uma mística de cara legal para alimentar – afinal, ele lota as páginas de seus livros de referências a música e futebol, dois assuntos basicamente irresistíveis -, e em "31 Canções" ele demonstra um conhecimento de seu próprio público difícil de ser igualado na literatura atual.

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Diante da parcela mais "entendedora" (aspas aqui são essenciais) de sua platéia, Hornby enfia goela abaixo elogios a artistas que não pega bem gostar, como Nelly Furtado, Rod Stewart e Jackson Browne. Para os novatos, aqueles que nunca tinham ouvido Velvet Underground até a trilha sonora do filme de "Alta Fidelidade", ele separou, com objetivos didáticos, canções de gente pouco (Paul Westerberg, Rufus Wainwright, Ben Folds Five, Badly Drawn Boy) ou nada conhecida (The Bible, Mark Mulcahy). E, para poder transitar entre esses dois grupos, apostou fichas em vacas sagradas: Bruce Springsteen, Beatles (é lógico), Dylan, Led Zeppelin, Van Morrison.

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Apesar dessa meticulosidade nas escolhas ser detectável, "31 Canções" é um livro despretensioso, e como tal deve ser encarado. Hornby se atém a elementos das composições citadas, como letras e melodias, mas de forma alguma faz resenha ou crítica musical. Na grande maioria dos textos, as canções são analisadas sob a ótica da importância que tiveram e têm na vida do autor: elas embalam considerações sobre divórcio ("Smoke", de Ben Folds Five), lembranças de dias vividos na América ("First I Look At The Purse", da J. Geils Band) ou de noites memoráveis em Londres ("Needle In A Haystack", das Velvelettes), reflexões ternas sobre o filho autista, Danny ("Puff The Magic Dragon", na interpretação de Gregory Isaacs, "A Minor Incident", de Badly Drawn Boy).

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É claro que tanta subjetividade pode se tornar enfadonha, mas músicos, canções e discos podem ser julgados, e não o significado que eles podem imprimir na vida de alguém. E aparentemente sem esforço Hornby arranca com freqüência raciocínios hábeis do meio das referências pessoais.


Ele espeta com classe a parcela da crítica que valoriza em excesso gente metida a chocante ("...(os críticos) tendem a ficar animados demais com qualquer um que tenha uma aura de consumo pesado de drogas – para os críticos de música, consumo pesado de drogas quase sempre é confundido com uma valiosa experiência de vida"). Teoriza sobre as possibilidades típicas da era dos computadores de se criar música com sabor novo a partir de sons gravados por outros (no artigo sobre "Frontier Psychiatrist", dos Avalanches, e "No Fun/Push It", do Soulwax).


E diverte com teorias já debatidas por qualquer entusiasta de música pop, como a necessidade de solos ("Born For Me", de Paul Westerberg), a forma como a superexposição pode "estragar" uma ótima canção ("Röyksopp’s Night Out", do Röyksopp), a mania irritante de certas pessoas de superestimar o passado ("Hey Self Defeater", de Mark Mulcahy), a trilha ideal para embalar uma noite de sexo ("Samba Pa Ti", de Santana)...

"31 Canções" é banal sem ser fútil, divertido sem ser debilóide, recomendável sem ser necessário, como boa parte da música pop de qualidade. É o mais próximo que um livro pode chegar da experiência de se saborear o CD de uma banda sem nada muito genial, mas que também não é apenas mais uma. Para Hornby, isso deve significar missão cumprida.


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