2001 estava aí ainda ontem e parece que passou há mais tempo. Naquele ano, "Shrek" foi a sensação dos cinemas nas férias de julho; os Strokes ameaçavam se tornar a maior banda da primeira década do século XXI, já que qualquer arroto de Julian Casablancas virava mp3 e era trocado incessantemente na internet através dos primeiros programas de compartilhamento de arquivos (no fim, o quinteto acabou não vingando); e, antes que 2002 chegasse, o panorama político internacional mudou via 11 de setembro.
2001 também foi o ano em que o Gorillaz, projeto multimídia de Damon Albarn, vocalista do Blur, do desenhista Jamie Hewlett e do produtor Dan The Automator, lançou seu primeiro disco. Poucos meses antes, havia saído o álbum de estréia da carreira solo de Stephen Malkmus, ex-Pavement. Os dois discos foram elogiados, apesar de não serem brilhantes, e freqüentaram as listas de melhores de 2001.
Mas, assim como em quatro anos deu tempo de George W. Bush transformar a comoção em torno dos atentados de 11 de setembro em anti-americanismo até entre os formadores de opinião mais esclarecidos, o Gorillaz e Malkmus não conseguiram chegar a 2005 com o prestígio inabalado. Ambos lançaram esta semana novos discos, respectivamente "Demon Days" (EMI) e "Face The Truth" (Matador – importado).
O Gorillaz continua sendo o escapismo de Albarn, que, camuflado sob o desenho animado, tem desculpa para ser ainda mais auto-indulgente do que no Blur (onde as disputas de ego custaram a cabeça do guitarrista Graham Coxon). "Demon Days" segue a lógica do primeiro álbum e persegue de tudo um pouco: rap, música eletrônica, rock alternativo, gospel, world music.
A vontade de atingir patamares sonoros inusitados é louvável e o disco tem seus acertos, como a tensa "Last Living Souls" e a ótima "DARE", delicioso pastiche de tecnopop com uma das melodias mais grudentas do ano. Mas "Demon Days" se ressente da ausência de Automator, que passou o cetro de produtor para Danger Mouse, conhecido pelo projeto "The Grey Album" – no qual remixou músicas do Álbum Negro de Jay-Z com sons retirados do Álbum Branco dos Beatles.
O problema é que Mouse tem idéias bem mais limitadas, repete timbres em excesso e puxa a coisa toda para o lado do hip hop (você sabe, em qualquer lugar onde entra aquele blá-blá-blá rimado, o estrago é grande). Além disso, ele tem à disposição composições menos inspiradas de Albarn, que tenta ser ousado mas cai na armadilha do hermetismo. Esses defeitos se somam a uma dura realidade: em 2005, a piada do Gorillaz talvez não funcione uma segunda vez.
Já Malkmus, ao contrário da brincadeira de Albarn, não ficou quatro anos no hiato: em 2003, ele lançou um segundo álbum, "Pig Lib", onde deu crédito à banda de apoio The Jicks. À época, fãs e imprensa pensaram que o talentoso cantor e guitarrista não poderia lançar coisa mais insípida e burocrática. Vão ter que rever a opinião: "Face The Truth" é lixo puro.
O álbum repete todos os erros de seu antecessor – Malkmus é tragado pela vaidade dos solos intermináveis de guitarra ("No More Shoes"), soa infantil quando tenta fazer pop assobiável ("Mama", "Baby C’Mon", "It Kills") e constrange nos momentos "experimentais" ("I’ve Hardly Been", "Pencil Rot", "Loud Cloud Crowd"). Na melhor das hipóteses, o que ele consegue é um arremedo tolerável da sonoridade da ex-banda em "Post-Paint Boy".
Se você estiver com muita saudade do Pavement, é melhor economizar dinheiro para comprar as edições comemorativas de "Slanted & Enchanted" e "Crooked Rain Crooked Rain", lançadas respectivamente em 2002 e 2004 com material extra farto. Qualquer comparação entre o Malkmus de hoje e o da década passada gera a constatação de que tem gente que não sabe mesmo envelhecer.
LANÇAMENTOS
Teenage Fanclub – "Man-Made" (PeMa – importado)
As ótimas três músicas inéditas da coletânea "Four Thousand Seven Hundred and Sixty-Six Seconds" (2002) deram a impressão de que o próximo álbum do Teenage Fanclub seria uma obra-prima. Essa idéia foi reforçada com os shows arrasadores da banda no Brasil, no ano passado. Ledo engano: "Man-Made", o tal novo trabalho, é indigno dos melhores momentos do grupo escocês. A fórmula de melodias gentis, sutis harmonias vocais e instrumentação econômica continua a mesma, mas as canções desta vez são anêmicas, cansadas. Apenas a belíssima "Only With You" se salva.
Para quem gosta de: Big Star, Byrds, Álbum Branco dos Beatles.
LCD Soundsystem – "LCD Soundsystem" (DFA/EMI – importado)
Sim, você já viu esta novela: ianque moderninho (o faz-tudo James Murphy) lança disco com batidas dançantes monocromáticas, letras hedonistas e vocais repetitivos, numa receita com raríssimas variações (hardcore em "Movement", baladão à Pink Floyd em "Never As Tired As When I’m Waking Up", barulheira gritada à Stooges em "Tired"), e a imprensa antenada fica de joelhos. Você vai ouvir falar muito sobre esse disco até o final do ano, mas não se importe em tentar ouvi-lo – o máximo a que o LCD Soundsystem vai chegar é um Tim Festival e fim de papo.
Para quem gosta de: Rapture, Le Tigre, Daft Punk.