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Quando ecletismo não é palavrão

10 dez 2004 às 11:00
O quinteto lança álbum que estava na gaveta há mais de cinco anos - Reprodução
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Se você já ouviu algum disco de Zeca Baleiro, sabe que não existe palavrão mais feio na língua portuguesa do que ecletismo. São poucos os artistas ou bandas que sabem misturar diferentes vertentes sonoras sem que o resultado final dê indigestão. O Acabou La Tequila angariou uma pequena leva de admiradores no underground carioca nos anos 90 fazendo de tudo um pouco: rock, música brega, reggae, ska, country. Quando o grupo lançou seu primeiro disco, em 1997 (com distribuição da Universal), o rock brasileiro vivia o auge da febre Raimundos – que já preparava um herdeiro, o Charlie Brown Jr. O Acabou La Tequila passou batido.

Após o fim da banda, em 1999, o falatório em torno dela só aumentou. Ajudou para isso a admiração de um fã ilustre, Marcelo Camelo, que sempre reverenciou o Acabou La Tequila como uma das influências primordiais do Los Hermanos (o que fica nítido no disco de estréia da banda do "Anna Júlia"). Os integrantes do quinteto se meteram em projetos musicais relevantes, com destaque para o baixista Kassin, que criou o selo independente Ping Pong, formou um elogiado trio com Moreno Veloso e Domenico e produziu "Ventura" (2003), do Los Hermanos, e para o baterista Nervoso, que iniciou no ano passado uma consistente carreira solo.

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Para que a mística ficasse completa, só faltava um álbum perdido – e não é que o dito existe? "O Som da Moda", lançado agora pelo Ping Pong e distribuído nacionalmente pela Trama, é o disco que o grupo completou pouco antes de pedir as contas e estava há mais de cinco anos na gaveta. O Acabou La Tequila até retornou para alguns shows, mas aparentemente apenas para matar saudades: não foram anunciadas intenções de levar a banda adiante.

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Mantendo a tradição, "O Som da Moda" tenta tudo: música eletrônica ("Kung Fu"), música brega ("Ferina"), country ("Dallas"), dancehall ("Tekila Boogaloo"), ska ("Eu Era Pop", parecidíssimo com Autoramas), Jovem Guarda ("Solarização"), punk rock ("Pensa Demais"). Há hibridismos, também: hardcore com scratches de rap ("Mais Ou Menos"), reggae com lounge ("Tranqüilo").

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Cheira a hermetismo, e é mesmo – muita coisa não desce em "O Som da Moda". "Ferina" é uma brincadeira sem graça nenhuma, assim como "Putrefected", country para cantar bêbado. O balanço da faixa-título aproxima o Acabou La Tequila das recriações chatíssimas de suingue que têm sido regurgitadas desde o final dos anos 90.


Mas o álbum está longe de ser fiasco. Em momentos mais centrados, a música está à altura do bom humor da banda – "Kung Fu" lembra a fase recente do Primal Scream, com batidas eletrônicas e guitarras pesadas; "Pensa Demais" e "Mais Ou Menos" provam o quanto Camelo ouviu o Acabou La Tequila, mas contam com um bom humor que o Los Hermanos desconhece; as manhosas "Tu É Choque" e "Tranqüilo" são praticamente canções de ninar, a segunda merecendo o título de melhor música do álbum, com refrão simples e sussurrado: "não tenho medo da morte". E "Solarização", cantada por Nervoso, mostra que em 1999 o baterista já tinha taco de compositor para se virar sozinho.

Talvez as falhas de "O Som da Moda" possam ser atribuídas ao fato de que o disco retrata uma banda ainda em maturação, que sequer sabia que não teria a oportunidade de ir além do segundo álbum. Mas seus defeitos e suas qualidades demonstram uma vontade de arriscar que não condiz com o rock que venceu no mercado brasileiro nos últimos anos. Caso a volta não seja pra valer, o Acabou La Tequila vai continuar fazendo falta.


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