A morte da primeira encarnação da Bizz, em 2001, sinalizou o baque que o jornalismo sobre música pop sofreu no Brasil com a ampliação do acesso à internet. Considerando-se as facilidades de se conseguir música nova através de programas de compartilhamento de arquivos e de se obter informações frescas, o apelo de apresentar novos sons, mote da maioria das publicações especializadas em rock, não parecia ter mais razão de ser no formato revista mensal.
Nos Estados Unidos e na Inglaterra, os dois maiores mercados produtores e consumidores do quatro por quatro, as publicações se mantiveram através do grande diferencial do jornalismo impresso: as grandes reportagens, atrativos para consumidores que vão além da busca pela última novidade, ao mesmo tempo em que foram preservadas seções de resenhas. A Bizz, que retornou há duas semanas às bancas, limou esta última porção e centra seu novo foco em edições especiais, que destrincham um único tema específico por edição.
O laboratório para este novo formato foi a série "História do Rock Brasileiro", composta de quatro revistas lançadas no segundo semestre do ano passado e editadas por Ricardo Alexandre, novo editor da Bizz e importante colaborador da última fase da primeira encarnação da revista, entre 2000 e 2001. O tema da primeira edição são as 100 maiores capas de discos de todos os tempos – previsivelmente, o disco da banana do Velvet Underground aparece no topo da lista.
A nova Bizz preserva as qualidades de suas melhores fases, como a abrangência (no ranking, há espaço para Cartola, Dead Kennedys e Ray Charles) e os textos bem trabalhados, com pesquisa esmerada, entrevistas curiosas e informações confiáveis. Tanto na escolha do tema da primeira edição quanto na diagramação da revista, limpa e elegante, fica evidente que a intenção é agradar fetichistas na área de música – gente que tem muitos CDs e vinis em casa e que aprecia todos os detalhes de um disco, da música aos grafismos, em contraponto à frieza do mp3.
O retorno da Bizz é digno de comemoração não só porque se configura como uma excelente opção de leitura, mas também porque redimensiona os padrões de qualidade do jornalismo sobre música pop no Brasil, abalados nos últimos anos por publicações aventureiras e com os piores cacoetes de fanzine e pela armadilha fácil dos blogs, onde qualquer um vira crítico. Dá para levar a sério resenha que tem mais de um verbo na primeira pessoa?
O problema é que a idéia de fazer edições temáticas pode levar rapidamente ao esgotamento. No início dos anos 90, a Placar adotou a mesma linha editorial, lançou edições memoráveis e outras nem tanto e logo foi obrigada a retornar à rotina de misturar a cobertura de temas atuais com saudações ao passado. Da mesma forma, a nova Bizz corre o risco de enveredar pelo passadismo.
A julgar por esse formato, continuará faltando nas bancas um enfoque padrão Bizz para a produção roqueira da atualidade, diante da qual a adesão burra aos hypes e a aversão radical e também estúpida aos mesmos fazem com que os erros de interpretação sobre os rumos da música pop se tornem freqüentes. Mas se esta foi a melhor alternativa para a volta às bancas e a sobrevivência da mais importante revista de música do Brasil, é um preço suportável a ser pago. E uma breve folheada nas primeiras páginas da nova Bizz será suficiente para você perceber o quanto ela fez falta.