As universidades foram forjadas a partir de um tripé que a sustenta e lhe dá forma: pesquisa, ensino e extensão. Uma das bases que mais aproxima as universidades dos cidadãos em geral é a extensão universitária, cuja proposta, dentre outras, é levar o conhecimento científico gerado no âmbito universitário para a sociedade de forma a melhorar da qualidade de vida das pessoas.
Tive a satisfação de mediar recentemente uma mesa-redonda promovida pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), cujo objetivo foi analisar o papel na inovação na extensão universitária. Pude debater esse assunto com profundos conhecedores do tema, como o professor Fábio Josgrilberg, da Universidade Metodista de São Paulo; Filipe Cassapo, Diretor do LelloLab e presidente do Centro de Inovação Europa-América-Latina; e a docente da UEL Érika Dmitruck.
Cada um procurou trazer sua contribuição dentro das especificidades de sua área de atuação. Em determinado ponto todos endossaram um raciocínio: a inovação precisa estar à serviço da vida. Para tanto, as universidades precisam sair de suas “bolhas” e buscar uma aproximação com a sociedade por meio de ações inovadoras que de fato tragam impactos.
Leia mais:
Câmara aprova proibição de celulares em escolas do país
La Niña ainda pode ocorrer em 2024, mas sem força para reverter aquecimento, diz agência
Paraná pode ter 95 colégios dentro do programa Parceiro da Escola a partir de 2025
2024 é o ano mais quente da história da humanidade, calcula observatório Copernicus
Filipe trouxe um exemplo claro: se existe um projeto que trabalha com empreendedorismo feminino, ótimo! No entanto, é preciso ampliá-lo e atingir também outras pessoas, buscando fomentar o empreendedorismo para negros e pessoas com algum tipo de deficiência, por exemplo. Não basta atingir parcelas da sociedade, é preciso chegar a toda a sociedade!
Filipe se baseia na premissa de que precisamos buscar soluções sistêmicas e não localizadas se quisermos que as mudanças sejam, de fato, impactantes. Isto é, promovam transformações profundas na sociedade e não apenas benefícios econômicos para determinados grupos.
Para quem acredita que essa mentalidade é muito progressista e pouco prática, vale lembrar que a pandemia de Covid-19 mostrou ao mundo que precisamos pensar mais coletivamente para resolvermos problemas sistêmicos. Se quisermos viver melhor, portanto, será por meio de uma mudança mais ampla, não apenas por decisões individuais.
Ao contrário do que se imagina, essa visão de mundo foi o que possibilitou o desenvolvimento de grandes inovações que mudaram literalmente a sociedade. Um exemplo claro vem de um professor universitário britânico: Tim Berners Lee. Ele criou o protocolo www, o que possibilitou a expansão da internet pelo mundo como uma ferramenta livre, descentralizada e aberta a todos.
Não precisamos criar novas internets para provocarmos grandes transformações, mas podemos desenvolver projetos focados em soluções coletivas. As incubadoras sociais, por exemplo, fomentam negócios que necessariamente tragam benefícios para grupos desfavorecidos socialmente, como cooperativas de recicladores. Aqui nesta coluna já tratei de outra iniciativa inovadora: Associação das Mulheres Cafeicultoras do Norte Pioneiro do Paraná (Amucafe).
As universidades têm um papel fundamental nesse processo e a UEL tem planos para isso. Quais? Assunto da próxima coluna ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.