Uma pesquisa da Unesp (Universidade Estadual Paulista) aponta caminhos que podem levar ao desenvolvimento de um anticoncepcional masculino. O estudo, publicado na revista Molecular Human Reproduction, mostrou que a partir da proteína Eppin, que regula a capacidade de movimentação do espermatozoide, é possível produzir medicamentos que controlem a fertilidade dos homens.
Segundo o professor do Departamento de Biofísica e Farmacologia da Unesp, Erick José Ramo da Silva, a partir de experimentos feitos em camundongos, foi possível identificar dois pontos da proteína que regulam a movimentação dos espermatozoides. “Ela tem um papel muito importante no controle da motilidade temática por interagir com outras proteínas que agora estão no sêmen. E essas proteínas, ao interagirem com a Eppin, promovem o ajuste fino da motilidade, o controle da motilidade”, explica o pesquisador, que faz estudos na área há 20 anos.
Silva conta que foram usados anticorpos para descobrir quais são os pontos da Eppin, que tem função semelhantes nos camundongos e seres humanos, responsáveis por regular a movimentação célula reprodutiva e masculina.
Leia mais:
Câmara aprova proibição de celulares em escolas do país
La Niña ainda pode ocorrer em 2024, mas sem força para reverter aquecimento, diz agência
Paraná pode ter 95 colégios dentro do programa Parceiro da Escola a partir de 2025
2024 é o ano mais quente da história da humanidade, calcula observatório Copernicus
Após a ejaculação, o espermatozoide precisa nadar para chegar ao óvulo e fazer a fecundação. Antes da ejaculação, no entanto, não há movimentação. A partir disso, o estudo buscou identificar qual a interação que faz com que as células fiquem paradas no momento correto. “Quem impulsiona o espermatozoide para dentro é o próprio processo de ejaculação. Somente depois de alguns minutos da ejaculação é que o espermatozoide vai adquirir a motilidade progressiva para seguir a jornada dele”, detalha o professor.
Com o entendimento detalhado de como as proteínas mantém os espermatozoides parados e depois ativam sua movimentação, surge a possibilidade do desenvolvimento de medicamentos que atuem de forma semelhante, criando um anticoncepcional com efeito quase imediato, como afirma Silva. “A gente estuda como essas proteínas interagem para entender como elas interrompem a motilidade para que a gente possa pensar estratégias farmacológicas, usando um composto, um princípio ativo, que pudesse incisar essa relação que naturalmente acontece”, acrescenta.
Histórico da pesquisa
A pesquisa foi iniciada em 2016, sendo financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e teve parceria com os departamentos de Farmacologia e de Ciências Biológicas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), além do Instituto de Biologia e Medicina Experimental do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas, da Argentina.
A partir de agora, as pesquisas devem continuar no sentido de buscar compostos ou moléculas quem possam atuar nos pontos identificados pelo estudo. A nova etapa será desenvolvida com cientistas da USP (Universidade de São Paulo), Inglaterra e Portugal.
Apesar dos avanços, o pesquisador conta que ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento de um anticoncepcional masculino tem enfrentado dificuldades devido à falta de financiamento pelas indústrias farmacêuticas.