Até 1929, Tarsila do Amaral era uma mulher de família aristocrática que vivia entre o Brasil e Paris e ostentava looks do estilista francês Paul Poiret. Tudo mudou com a crise daquele ano de quebra da Bolsa de Nova York – sua família perde a fazenda, ela se casa novamente depois da separação de Oswald de Andrade e viaja à Rússia.
Segundo Paulo Kuczynski, que exibe um raro quadro feito após essa viagem em sua galeria, o olhar dela para o mundo muda nesse período. Tarsila se despede da fase antropofágica de sua produção e entra para a social.
A obra "Segunda Classe", feita no mesmo ano da emblemática "Operários", em 1933, estava em coleção privada e foi vista poucas vezes pelo público. Agora, a tela está à venda – e o valor é estimado em R$ 90 milhões.
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As últimas duas grandes vendas de obras de Tarsila foram "A Lua", comprada pelo MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, e "A Caipirinha", vendida por R$ 57 milhões em 2020.
A transação envolvendo "A Lua" não tem valores confirmados, mas pessoas próximas afirmam à época que a cifra que circulava no mercado, de US$ 20 milhões, aproximadamente R$ 102 milhões, não estaria distante da realidade.
Paulo Kuczynski exibe "Segunda Classe" em seu Escritório de Arte, em São Paulo, junto com "Paisagem com Dois Porquinhos", obra de 1929 avaliada em R$ 45 milhões que tem as cores vibrantes da fase antropofágica da artista. Nela, as formas ainda são exuberantes e fartas, distantes dos rostos lânguidos de "Segunda Classe".
As duas pinturas juntas, para ele, mostram "uma despedida dela de um mundo para outro" – a de uma senhora fazendeira para o lado do povo.
É uma mostra de duas obras apenas e que reuniu textos de nomes como Paulo Venancio Filho, Aracy Amaral, Regina Teixeira de Barros, Juan Manuel Bonet e Jorge Schwartz para um catálogo.
O esforço para organizar um material desse porte em torno de duas telas se justifica pela raridade de encontrar quadros da artista para comprar. "Não existem obras dela à venda no mercado nunca, e o que é importante da Tarsila foi feito em 1924 e anos 1930." Ou seja, num espaço que não chega a duas décadas.
Segundo o galerista já há compradores interessados em "Segunda Classe". Essa compra faz parte de um interesse do mercado por obras que retratem pessoas excluídas, além de pinturas feitas por mulheres, segundo Kuczynski.
De acordo com ele, Tarsila inclusive é pioneira em fazer o retrato das classes marginalizadas no Brasil, e traz esse tema para as artes visuais antes mesmo de nomes emblemáticos como Candido Portinari.
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TARSILA: AS DUAS E A ÚNICA
Quando 12/3
Onde Paulo Kuczynski Escritório de Arte
Preço Gratuito