Literatura

Cardeal Robert Sarah lança livro 'Deus ou Nada' e critica celebrações 'barulhentas'

21 nov 2016 às 08:28

Nomeado bispo por João Paulo II aos 34 anos e feito cardeal por Bento XVI aos 65, o prefeito da Congregação do Culto Divino e Administração dos Sacramentos, Robert Sarah, nascido em 1945 de uma família de crença animista na Guiné, costa ocidental da África, desponta como um dos mais fortes candidatos à sucessão do papa Francisco, na hipótese de um conclave a curto ou médio prazo. Homem de profundas convicções e de posição moderada na política, conservadora na teologia e mais aberta em questões sociais, o cardeal expõe suas ideias com firmeza no livro "Deus ou Nada", transcrição de longa entrevista sobre a fé ao jornalista Nicolas Diat, autor de "O homem que não queria ser papa", sobre o pontificado de Bento XVI.

O cardeal recorda com saudade a infância na vila rural de Ourous, perto da fronteira com o Senegal, a 500 quilômetros de Conakry, capital da Guiné, da qual seria arcebispo por nove anos, durante a ditadura marxista do presidente Sékou Touré. Respeitava as formas protocolares do regime, mas denunciava corajosamente as atrocidades do governo que prendeu e torturou seu predecessor, o arcebispo Raymond-MariaTchimdibo. Quando Touré morreu, revelou-se que Robert Sarah era o primeiro de uma lista de opositores que o ditador pretendia eliminar. Foram anos de sofrimento num país de 8,5 milhões de habitantes, um território de população miserável, apesar de grandes recursos naturais.


Em "Deus ou Nada", o cardeal refere-se com admiração aos papas de seu tempo, de Pio XII a Francisco, com especial veneração por Bento XVI, que lhe confiou a direção do Conselho Cor Unum, responsável pela administração da caridade (distribuição dos recursos) do papa aos pobres e às vítimas de catástrofes. Robert Sarah começou então a percorrer o mundo, experiência que se intensificou a partir de 2001, quando João Paulo II o nomeou secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Ao assumir a Congregação do Culto Divino e Administração dos Sacramentos, em 2010, seu prestígio na Cúria Romana já era notável. O papa Francisco manteve-o no cargo.


Responsável pela liturgia, para ele momentos de oração e união com Deus, o cardeal desaprova as celebrações ruidosas de grupos pentecostais da Igreja. "Algumas missas são de tal modo agitadas que não se diferenciam de uma quermesse popular", declarou, aconselhando os católicos a "redescobrir que a essência da liturgia está eternamente marcada pelo cuidado da busca de Deus".


O cardeal africano atribui à influência do feminismo a crescente reivindicação de ordenação sacerdotal de mulheres, como já ocorre na Igreja Anglicana. "A ideia de uma mulher cardeal é tão ridícula como a de um sacerdote que quisesse se tornar religiosa", ironizou, ao comentar que há quem admita também o episcopado feminino. A nomeação de mulheres para a chefia de postos-chave na Cúria Romana não seria problema, se fosse pelo critério da competência e não pelo único fato de serem mulheres.


Questões morais e pastorais atualmente em discussão na Igreja, como a ideologia de gênero, a homossexualidade, a pedofilia e a situação dos divorciados, são analisadas pelo prefeito da Congregação do Culto Divino e Administração dos Sacramentos sem concessões. "A ideologia de gênero veicula uma mentira grosseira, uma vez que a realidade do ser humano, enquanto homem e mulher, é negada. Os lobbies e os movimentos feministas a promovem com violência", afirma o cardeal. Os casais divorciados em segunda união, insiste, não podem ter acesso à eucaristia.

Atraído pela Teologia da Libertação, quando ela surgiu, por causa da preferência pelos pobres, Sarah afastou-se dela ao perceber "as origens marxistas de alguns defensores dessa teologia". Sua justificativa: "Eu via demasiadamente em meu país as consequências da teologia comunista". Para o cardeal, "a batalha da Igreja reside na conversão dos corações". Robert Sarah imagina que "a imensa influência econômica, militar, técnica e mediática de um Ocidente sem Deus pode ser um desastre para o mundo", pois "se o Ocidente não se converter para Cristo, pode acabar por paganizar o mundo inteiro". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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