As relações entre o Estado e a produção cultural sempre causaram polêmica. Seja pela quantia repassada aos artistas, seja pela própria iniciativa do Estado em repassar verbas para a cultura. Em Londrina, o mecenato (termo que sintetiza essa relação de auxílio entre o Estado e o meio cultural) se consolidou com a criação da Lei de Incentivo à Cultura, elaborada em 1992 e efetivada em 1994. Por meio de renúncia fiscal, os contribuintes podem investir nos projetos culturais inscritos na lei e aprovados por uma comissão da Secretaria de Cultura. Há também os repasses diretos, caso de festivais tradicionais como o de teatro (Filo) e o de música (FML), que recebem um auxílio financeiro para a realização de sua programação.
Entretanto, no último dia 6, um repasse para a cultura causou polêmica em Londrina. A Câmara Municipal aprovou por 15 votos a 5 o projeto de lei do prefeito Nedson Micheleti (PT) que autoriza a abertura de crédito adicional especial de até R$ 440 mil para a produção do filme ''Gaijin 2'', de Tizuka Yamasaki. O filme, orçado em R$ 7 milhões, já captou R$ 3 milhões e deve ser rodado entre fevereiro e abril de 2002 em Londrina e região.
Naquela sessão na Câmara, a Folha ouviu alguns vereadores a respeito do projeto. A maioria aprovou a iniciativa de Nedson, realçando os benefícios que Londrina terá com a realização de ''Gaijin 2''. O único a criticar foi Renato Araújo (PPB), alegando que a Prefeitura estaria usando verba pública para publicidade pessoal, o que poderia gerar até ações do Ministério Público.
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Após a celeuma, a Folha solicitou ao produtor executivo do filme, Flávio Chaves, um balanço de todos os benefícios que Londrina terá com a produção de ''Gaijin 2'' na cidade. A avaliação elaborada pelo produtor aponta investimentos de aproximadamente R$ 2 milhões em Londrina, abrangendo desde o material a ser utilizado na construção da cidade cenográfica, como contas de telefone, aluguel de equipamentos e utensílios e demais despesas (veja box ao lado).
Chaves lembra que outras produções contribuíram e muito com a cidade que lhes deram suporte. Entre os exemplos da recente safra do cinema e da TV brasileira, o produtor destaca o filme ''O Quatrilho'', de Fábio Barreto, rodado no interior do Rio Grande do Sul em 1995; a criação do Instituto Dragão do Mar em Fortaleza, um órgão totalmente voltado à exibição e produção de filmes; e a produção da novela ''Tropicaliente'', exibida pela TV Globo em 1994 e que recebeu do Estado do Ceará na época um montante de aproximadamente 700 mil dólares. ''A gravação da novela na região rende receitas até hoje para o Ceará, ultrapassando o valor que foi investido pelo governo na novela'', observa Chaves.
Fora do Brasil, cidades e países disputam a possibilidade de se tornarem cenário para uma grande produção. Nos Estados Unidos, excetuando-se Nova York e Los Angeles (os principais centros de produção cinematográfica do mundo), muitas prefeituras pequenas oferecem atrativos fiscais e auxílio financeiro para que filmes sejam rodados. A disputa chega até o Canadá, onde os tributos são mais leves e as condições oferecidas pelas prefeituras são bem mais favoráveis que as existentes nos EUA.
Leia mais na reportagem de Rodrigo Souza Grota na Folha de Londrina desta segunda