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Guaíra apresenta o espetáculo "O Enterro do Cachorro"

Katia Michelle - Folha do Paraná
13 set 2001 às 11:22

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Um das cenas mais divertidas do filme "O Auto da Compadecida" (Brasil, 2000, direção de Guel Arraes), baseado na obra do paraibano Ariano Suassuna, é aquela em que o desatinado João Grilo tenta convencer o padre a enterrar um cachorro. O episódio, de autoria anônima, faz parte da cultura popular nordestina e foi levado às telas. Agora, a mesma história ganha adaptação de Ailton Silva Carú para o teatro. Ele também assina a direção da peça "O Enterro do Cachorro", que tem pré-estréia hoje, no miniauditório do Teatro Guaira.
"O Enterro do Cachorro" chega aos palcos com dois méritos: consolida o trabalho da Casa de Teatro Produções Artísticas, calcado na arte popular e marca 30 anos de carreira do diretor. Aos 48 anos, Carú acumula dezenas de montagens teatrais como ator e diretor, desde que saiu de Caruaru, em Pernambuco, e aportou em terras paranaenses, na década de 70.
Vem da terra natal do diretor, aliás, seu interesse pela cultura popular brasileira. "Não aproveitamos nossa cultura, mas quando ela é utilizada, a aceitação é grande", salienta. Para desenhar a opinião, Carú se baseia no sucesso de espetáculos anteriores que dirigiu. Ele assina a direção de "Coração Dilacerado" (1999), também baseado na obra de Suassuna e "Solte o Boi na Rua" (2000), uma comédia musical popular com texto de Vital Santos, para citar as mais recentes.
Em comum, as peças dirigidas pelo pernambucano radicado em Curitiba têm a linguagem regional nordestina. Como referência, a literatura de cordel, os mamulengos e as músicas (a maioria das vezes executada ao vivo), que conferem uma espécie de "marca" ao seu trabalho. Pela convicção nessa linguagem, Carú já se transformou num personagem peculiar da cidade. Quando fala sobre o seu trabalho, é categórico. Tanto que ao longo de sua carreira, assina o mesmo texto em quase todos os programas dos espetáculos que dirige. "Isso porque meu trabalho é um só", define.
No texto, ora assinado por Vital Santo ora pelo próprio Carú (a autoria original já se perdeu no tempo) está condensado a justificativa do seu trabalho: "O nordestino, por exemplo, vai deixando de lado manifestações vigorosas e originais, como a lapinha, os pastoris, a chegança e a marujada, as festas do divino, as congadas e principalmente o bumba-meu-boi, trocando-as por uma imitação do que seria 'civilizado', adiantado". E prossegue: "Mesmo o nosso teatro esquece toda essa riqueza cultural e raramente a utiliza como matéria-prima em seus espetáculos. É contra esse estado de coisas que estamos atuando".
Em "O Enterro do Cachorro", essa linguagem e rebeldia contra o status quo se salienta. O texto foi adaptado aproveitando a experiência do diretor com mamulengueiros, autores de cordel e folguedos existentes no Nordeste. Para contar a história, que tem como personagens centrais, João Grilo (Itaércio Rocha), o amigo Chicó (Gerson Andrade), o padre (Paulo Afonso de Castro), o padeiro (Tarcísio Alencar) e a mulher do padeiro (Ana Cristina Souza), o grupo utiliza três técnicas de boneco (vara, luva e marionetes), confeccionados pelo bonequeiro Odílio Malheiros.
Além da participação dos bonecos, a história é permeada por uma sonoplastia calcada na música nordestina contemporânea, que vale-se de Lenine, Tom Zé e Mestre Ambrósio. A iluminação é assinada pelo veterano Beto Bruel. A peça fica em cartaz até o dia 30 de setembro.
"O Enterro do Cachorro", direção e adaptação de Ailton Silva Carú. De hoje a 30 de setembro, às 21 horas, no miniauditório do Teatro Guaíra, em Curitiba. Domingo, às 19 horas. Ingressos a R$ 10,00, R$ 8,00 e R$ 5,00.
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