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Perda no Jazz

Morre a cantora Nina Simone, em sua casa, na França

Redação - Folha de Londrina
23 abr 2003 às 19:07

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Nina Simone, uma das últimas divas do jazz, deixa uma legião de órfãos inconsoláveis pelo mundo. A cantora morreu de causas naturais anteontem em sua casa, no sul da França, aos 70 anos. A Alta Sacerdotisa do Soul, como era chamada, ficou famosa interpretando músicas como ''My Baby Just Cares For Me'', ''I Put a Spell On You'' e ''One Night Stand''.

Com sua voz lamentosa de timbre inconfudível, gravou mais de 50 discos impregnando gerações com o talento particular para vestir canções de vários estilos, do blues ao pop. Carismática, imprimia dramaticidade única às versões a ponto de ofuscar a ''autoria'' das composições, que trazia assinaturas de ilustres como Cole Porter, Beatles, Duke Ellington, Jacques Brel e Irving Berlin.

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Nina era a última grande cantora da geração que viveu o apogeu e o declínio da Era do Jazz. Nascida em Tryon, na Carolina do Norte (EUA), trazia na certidão o nome Eunice Kathleen Waymon, que trocou para Nina Simone para não ''envergonhar'' os pais. Criada em uma família de oito filhos, ela não tinha apoio em casa para mostrar seus dotes vocais, a não ser no coral gospel da Igreja ao lado das irmãs.

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A mãe, uma pastora e empregada doméstica, demonizava a profissão de cantora. Mas a menina era considerada um prodígio na cidade. Quando começou a estudar piano, a população se uniu para pagar as mensalidades do curso. Ao se mudar para Nova York, conseguiu um feito: matriculou-se na prestigiada escola de artes Julliard School, uma oportunidade pouco comum nos anos 50 para uma jovem negra e pobre.

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Depois de se formar, deu aulas de piano para se manter na Big Apple. A primeira apresentação na cidade foi num bar-restaurante. Mais tarde, estabeleceu seu nome em palcos de Nova York e da Filadélfia. O primeiro disco, ''Little Girl Blue'', chegou às lojas em 1957, quando ela tinha 25 anos. A essa altura, já era comparada a Billie Holiday.


Seu primeiro grande sucesso foi ''I Loves You, Porgy'', da ópera Porgy and Bess, de George Gershwin. Nos anos 60, quando a guerra pelas liberdades civis de negros estourou nos Estados Unidos, a cantora tornou-se ativista política lançando várias canções de protesto black como ''Mississipi Goddammnn'', ''Pirate Jenny'' e ''Strange Fruit''.

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Mas a consciência do racismo lhe surgira precocemente, aos 10 de idade, quando fez seu primeiro recital de piano na Biblioteca de Tryon. Durante a apresentação, seus pais foram removidos da primeira fileira para acomodar espectadores brancos. O trauma do episódio a marcaria para toda a vida. Nos anos 70, acirrou o engajamento atuando em várias frentes de luta.


Chegou a ser presa por ter se negado a pagar impostos em protesto contra a Guerra do Vietnã. Temendo a combinação de racismo e violência, que vicejava no país, mudou-se para a Europa onde morou em vários países. Nas décadas seguintes, distanciou-se do público norte-americano fazendo shows em todo o mundo, inclusive no Brasil em 1988 e 1997.

Há cerca de dez anos, Nina Simone experimentaria um novo ciclo de sucesso, motivado pelo filme ''A Assassina'' cuja personagem vivida por Bridget Fonda ouve os discos da cantora. A diva do jazz partiu deixando uma filha, Simone, que participou dos últimos shows da mãe na América.


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