Sempre haverá um estrangeiro a se embevecer com os experimentos sonoros de Tom Zé. O primeiro – na verdade o grande anjo da guarda – foi David ‘ex-líder do Talking Heads’ Byrne a oferecer mãos, ouvidos e estúdios para o músico brasileiro. Mais que isso, informou aos Estados Unidos – ou seja, ao mundo – o descaso do Brasil com um de seus mais férteis artistas em latente estado de ostracismo fonográfico. O anjo da vez atende pelo nome de Henri Laurence, diretor da BMG francesa que quer ampliar ainda mais o interesse pelo trabalho de Tom Zé no exterior. E isso se dará através do lançamento, em abril, na França, de ‘Jogos de Armar - Faça Você Mesmo’ (2000), numa parceria com a gravadora Trama por onde o CD foi registrado. Lá, o disco receberá o nome de ‘Jeaux de Construction’, com as letras do encarte vertidas para o francês.
O fato ganha contornos vigorosos porque a BMG enviou dias atrás ao Brasil, jornalistas de cinco das mais expressivas publicações francesas para conhecer mais de perto o que é que o baiano de Irará tem de tão especial. Ou seja, além de fazer entrevistas, ele vieram conhecer o ambiente de trabalho em que Tom Zé dá asas às suas criatividades – com direito, aliás, a contato com instrumentos exóticos como o enceroscópio (construído com enceradeiras, aspiradores de pó e liquidificadores).
Em outras palavras, os jornalistas vieram pavimentar o caminho para que em abril, quando fará shows e workshops, Tom Zé tenha na França uma acolhida digna de sua envergadura artística. Marketing? Pode ser. Aliás, é. Mas não é todo dia que uma gravadora internacional se interessa verdadeiramente em não só vender a criação como também exaltar a criatura – no caso, o brasileiro Antônio José Santana Martins, ou simplesmente Tom Zé, ou ‘Zenial’, como um crítico da publicação francesa Le Nouvel Observateur o simplificou.