Orbitando pela memória e o desespero, sem perder a poesia existente no humor da amargura, o argentino Aristides Vargas vai além da opressão no espetáculo ''La Razón Blindada'', que estréia nesta quinta-feira no Filo, às 20 horas, com outras duas reapresentações, no Circo Funcart.
Ao separar o que existe de Dom Quixote em Sancho Pança, personagens inesgotáveis da litertura universal, o dramaturgo e roteirista de cinema, considerado um dos mais importantes da América Latina, apaga a esperança de que a utopia se torne realidade, sem com isso deixar de espalhar a crença de que o mundo pode ser melhor.
Para chegar a esse desconstrução da utopia na peça, que traz ao festival londrinense a companhia teatral equatoriana Malayerba, Vargas tentou transpassar a figura quixotesca com a qual, invariavelmente, muitos autores têm uma dívida.
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Vargas decidiu fazer essa travessia a partir de três impressões diferentes da da obra de Cervantes, que publicou Dom Quixote em 1605.
Além da próprio clássico, o diretor embarca nas narrações de presos políticos argentinos, durante uma viagem ao sul da Argentina, na Patagônia, apropriando-se do espólio de lembranças de um detento em particular, Chicho, que passou muitos anos numa colônia penal daquela região.
O diretor do grupo, que existe há 25 anos, escorou a dramaturgia da peça nos pontos de ''A Verdadeira História de Sancho Pança'', de Franz Kafka, que retesa a utopia em si, não aceitando a prática para se tornar verdadeira.
''La Razón Blindada'' cerca duas pessoas que se encontram todos os domingos ao entardecer para contar a história de Dom Quixote, o cavaleiro que toma moinhos por gigantes, crendo que prisões são paraísos, e que se exila na loucura.
''O texto surgiu a partir de um convite de dois festivais, que me pediram um exercício sobre o ''El Quijote''. Quando me solicitaram, pensei que tudo já estava dito sobre Quixote. Para mim era difícil transpassar essa figura. Não queria falar de um Quixote igual'', conta Vargas.
Dessa inquietação nasceram os dois personagens que podem tanto estar num manicômio, como em um hospital ao terem as suas auras recheadas com a do próprio Cervantes, que escreveu Dom Quixote, quando estava no cárcere.
Em cena, os dois personagens não se relacionam afetivamente, mas se envolvem com o público na releitura, que busca uma saída do labirinto da imaginação, sabendo desesperadamente que é impossível chegar à realidade por esse atalho, que mesmo assim é capaz de salvar os loucos.
Serviço:
La Razón Blindada
Datas: 15, 16, 17 de junho, quinta a sábado
Horário: 20h
Ficha técnica:
Autor e diretor: Aristides Vargas.
Elenco: Gerson Guerra e Aristides Vargas.
Cenografia: Grupo Malayerba.
Figurino: José Rosales.
Iluminação: Elena Navarrete.
Duração: 80 minutos.