Nascida em São Jerônimo da Serra (norte do PR), Yara Ramos - codinome místico da Rosa que tem origem rural - chegou ao município de Londrina aos 9 anos, em 1947, para morar inicialmente no patrimônio Maravilha. Com inteligência viva, aprendeu a ler praticamente sozinha e a intimidade com a leitura a levou a ser a primeira professora de uma escola municipal.
Sobre isso, na entrevista feita esta semana, ela conta que num programa de televisão viu que uma pessoa foi citada como a primeira professora de uma escola estadual do distrito onde ela passou a infância e parte da adolescência, mas enfatiza: " A primeira professorinha da escola municipal de Maravilha fui eu, aos 15 anos."
Ela ia a cavalo para a escola cortando caminho pelas matas, seguida também a cavalo pelos irmãos e parte dos alunos num trote ritmado. "O nome do meu cavalo era Tordilho e, de vez em quando, a gente ouvia na mata um esturro de onça, ruuuuuu" - diz, imitando o som que fazia os cavalos andarem mais ligeiros.
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O PRIMEIRO DESAFIO
Na juventude, Yara veio morar em Londrina e trabalhou na Secretaria de Educação, na cidade que ainda tinha ruas de terra batida, mas passou por um período de depressão e voluntariamente, aos 21 anos, internou-se num sanatório, o Shangri-lá, onde foi diagnosticada com psiconeurose: "Na época, eu chorava dia e noite, então me internei espontaneamente." Foi seu primeiro grande desafio.
Desta fase, ela guarda lembranças traumáticas como as sessões de eletrochoque, mas da condição de paciente acabou passando a auxiliar os médicos, ajudando a cuidar de outros doentes. Algumas vezes convenceu pessoas a entrarem no hospital psiquiátrico sem precisarem ser obrigadas, conversando com quem manifestava resistência na portaria.
No período, também devorava os livros que encontrava na biblioteca do hospital e fazia amizades para amenizar a angústia de outros internos, como a mulher de quem queriam cortar a trança. Ela intercedeu: "Não cortem o cabelo dela, eu ajudo a pentear todos os dias." E foi criando uma rede de afetos num lugar onde havia dor.
Saiu de lá aconselhada a cursar medicina, devido ao interesse profundo demonstrado pelos outros pacientes e os livros. "Fui morar em Curitiba para fazer um curso preparatório e tentar uma vaga na Universidade Federal do Paraná, mas desisti quando visitei a faculdade e entrei na sala com os cadáveres para estudo, aquilo não era para mim. Pensei que em vez de médica de corpo, queria ser médica de almas."
De volta a Londrina, nos anos 1960, ela foi trabalhar no Banco Brasil: "Por indicação do Dr. Orlando Vicentini que era o médico de um de meus sobrinhos. Antes, já havia trabalhado durante um ano no Banco Nacional de Minas Gerais, em Curitiba."
Ser mulher e bancária era uma novidade e foi mais um dos desafios encontrados em Londrina, mas ela ainda arranjou tempo para outro emprego. "Trabalhava meio período no banco e, na outra metade do dia, num escritório de advocacia. Morava com minha irmã , como era comum entre bancários e professoras que chegavam a Londrina, deixando os pais em outra cidade."
Em 1966, ela conheceu o astrólogo Vicente Vianna, que fazia um programa de rádio sob o codinome "Professor Netuno", foi sua secretária e depois passaram a ter um relacionamento. Com ele, teve sua única filha: Inajá, que lhe deu duas netas.
Em 1971, o companheiro sugeriu que ela não precisava ser secretária porque tinha conhecimento suficiente de astrologia. Nascia assim Yara Ramos, com um programa próprio na Rádio Difusora de Londrina, que ficava na rua Santa Catarina, esquina com a Mato Grosso.
O relacionamento com Vicente Vianna durou 38 anos, até seu falecimento. O programa radiofônico dura até hoje - com a transmissão do horóscopo diário, na Rádio Londrina, em três horários - e desde a estreia foram muitos desafios e conquistas, com enorme êxito, coisa incomum para as mulheres de sua geração.
Na reportagem da editora da FOLHA 2, Célia Musilli, na Folha de Londrina você consegue ler a entrevista na íntegra e saber como é a rotinha da comunicadora e astrólaga de Londrina, que aos 85 anos ainda faz atendimentos diários.