A ida de Neymar para o Barcelona muda de figura conforme o ângulo de observação. Na Espanha, o Barcelona e o staff do jogador avaliam que as explicações dadas na semana passada para o negócio são suficientes para considerar que o caso está encerrado. No Brasil, muitas questões estão abertas e influenciam desde a política interna do Santos até a relação com a DIS, braço esportivo do Grupo Sonda e que detinha 40% dos direitos federativos do craque.
Na semana passada, a DIS encaminhou uma notificação para o Barcelona solicitando a apresentação dos documentos relativos à venda do craque brasileiro. "O Grupo DIS não viu os documentos", alegou o advogado Roberto Moreno.
A DIS quer analisar a documentação porque teme não ter recebido os valores a que tem direito, em sua visão. A empresa alega que deveria receber 40% do valor total da venda, que inclui, entre outros itens, a intermediação do pai de Neymar, por exemplo. "Vamos aguardar a documentação da Espanha para definir como atuar", disse Roberto.
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"A contratação custou 57,1 milhões de euros. Tecnicamente, o valor é de 17,1 milhões de euros, a quantia paga ao Santos. O resto, que eleva as cifras para mais de 80 milhões de euros (R$ 262,4 milhões), não tem a ver com a contratação", afirmou Raúl Sanllehí, diretor de futebol do Barcelona.
No último sábado, na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o presidente em exercício do Santos, Odílio Rodrigues, afirmou que só vai se pronunciar oficialmente na semana que vem. Nesta segunda-feira, por meio de sua assessoria de imprensa, o clube garantiu "acompanhar atentamente todos os desdobramentos na Europa".
Francisco Cembranelli, membro do Comitê Gestor do clube da Vila Belmiro, foi ainda mais enfático. "O Santos não tem culpa de nada. Quem pagou é que tem de explicar se os valores foram superiores. Nós cumprimos o contrato", disse o dirigente santista.
Na última sexta, Bartomeu e Raúl Sanllehí reafirmaram que o gasto do clube com a contratação foi mesmo de 57,1 milhões de euros (R$ 187,2 milhões), dos quais 40 milhões (R$ 131,2 milhões ) para a empresa N&N, que pertence a Neymar, e 17,1 milhões (R$ 56 milhões) para o Santos dividir com a DIS.
A revelação dos detalhes da negociação de Neymar foi solicitada, segundo a diretoria do Barcelona, pelo próprio pai de Neymar, que estaria chateado com as suspeitas sobre a operação. Na semana passada, Sandro Rosell não resistiu às suspeitas e renunciou à presidência do Barça.
SEGUNDA TENTATIVA - A DIS afirma que a notificação enviada à Espanha é uma segunda tentativa de ter acesso aos números da negociação de Neymar. No final do ano passado, a empresa ingressou com ação judicial, na Justiça de São Paulo, exigindo a exposição desses documentos.
A DIS quer ter acesso a quatro contratos: o documento da venda, o contrato para a realização de dois amistosos, o que trata da preferência do clube espanhol sobre jogadores das categorias de base do Santos e o acordo firmado entre o Barcelona e o jogador em novembro de 2011 e pelo qual Neymar recebeu um adiantamento de 10 milhões de euros.
OPOSIÇÃO - Os dirigentes da oposição santista acham que a venda de Neymar é uma história mal contada e aguardam o fim da investigação da Justiça Espanhola para agir. Entre as providências possíveis estão desde pedir à diretoria esclarecimentos até articular - mais uma vez - o pedido de impeachment da atual presidência.
O conselho tem 250 membros - cerca de 80 da oposição. Para eles, o momento atual é a oportunidade de derrubar a cúpula do clube. Os questionamentos principais são o lucro reduzido do Santos na negociação e a possibilidade de a venda de Neymar para o Barcelona ter sido concluída em 2011 - mesmo sem nenhuma confirmação oficial.