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Tite concorda com Marcão e aponta racismo estrutural no futebol brasileiro

Klaus Richmond - Folhapress
07 out 2021 às 09:00
- Lucas Figueiredo/CBF
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Tite ainda exibia cabelos pretos e tinha no currículo de treinador só uma rápida passagem pelo Guarany de Garibaldi, modesta equipe da Serra Gaúcha, quando chegou para dirigir o recém-fundado Veranópolis Esporte Clube, no primeiro semestre de 1992.


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Na nova equipe, pediu a contratação de dois jogadores, mas lhe causaram estranheza as reações contrárias aos nomes. Ele entende que a resistência foi motivada por discriminação racial e, de lá para cá, consolidou a visão de que existe um preconceito "arraigado" no futebol brasileiro.

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"Eu tenho isso em relação ao negro. Vivo em uma região preconceituosa. O meu primeiro título foi no Veranópolis, e as contratações que eu pedi foram de dois jogadores negros. Aquilo gerou impacto", contou, em entrevista ao SporTV em dezembro de 2018.

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Ele levou de Veranópolis o primeiro título de sua vitoriosa carreira de técnico -conquistou a segunda divisão do Campeonato Gaúcho, aos 31 anos- e também uma lição de desigualdade racial jamais esquecida.


Anos depois do episódio, em 2018, tentou fazer justiça com o volante Fernandinho, apontado por torcedores como maior vilão na eliminação da seleção brasileira diante da Bélgica, nas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia.

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"Foi o primeiro que tive vontade de convocar, o número um", disse. A promessa do jogador do Manchester City à família de que não voltaria após uma enxurrada de agressões raciais nas redes sociais o fez inicialmente recusar. Depois, retornou.


Nesta quarta (6), em entrevista coletiva concedida na véspera do jogo contra a Venezuela, em Caracas, pela 11ª rodada das Eliminatórias da Copa de 2022, Tite não se furtou ao ser questionado sobre o assunto e abordou as recentes falas de Marcão, treinador do Fluminense.

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Em entrevista publicada pelo jornal no último sábado (2), Marcão mencionou que há treinadores negros "altamente capacitados sem oportunidade" e indagou sobre o desaparecimento de nomes como Cristóvão Borges e Andrade, ambos desempregados. Mais do que isso, disse que há claro preconceito no futebol. Tite concordou.


"Eu vou me posicionar. Luto e lutei minha vida toda contra minha ignorância. Procurei ler, aprender e estudar. E continuo. E contra a hipocrisia, que é brincar de faz de conta. Prefiro responder quando não quero. Há, sim, um preconceito. Há, sim. E ele é arraigado, estrutural, sim", disse o gaúcho, antes de citar um treinador negro que admira, o ex-jogador Roger Machado.

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"Um dos maiores atletas com quem trabalhei se chama Roger Machado. Pela conduta pessoal, pelo conhecimento profissional, pelos momentos bons, pelos difíceis. Vejo nele um exemplo, um dos profissionais por que tenho o mais profundo respeito. Devemos lutar, sim, porque há um preconceito em relação ao técnico negro e, talvez, ampliando, em uma situação generalizada e maior em termos sociais", acrescentou.


A fala do treinador foi seguida por um desabafo de César Sampaio, auxiliar técnico da seleção escolhido para acompanhá-lo na entrevista. "E, mais do que um posicionamento, são atitudes. Então, eu me sinto muito feliz, e capaz, em ocupar este espaço, de estar aqui. E falo à classe negra para que possa lutar", afirmou.

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Marcão virou, ao lado de Roger, um rosto ativo na luta por igualdade de oportunidades aos profissionais da categoria. O ex-volante exaltou a coragem de seu atual clube em bancá-lo por sua capacidade, não pela cor de pele.


Andrade, citado por ele, posicionou-se nas redes sociais na terça (5), agradecendo a lembrança e prestando solidariedade ao técnico do Fluminense, que passou a ser alvo de ofensas. Segundo Andrade, as palavras ditas pelo treinador da equipe carioca foram consideradas por alguns como "mimimi e lacração".


"Enquanto isso, trabalhemos para diminuir a discriminação racial real que infelizmente temos em nosso país: 54% da população brasileira é negra, são 20 clubes na Série A com um único técnico negro (você, Marcão), e a justificativa é competência?", questionou.


Atualmente, Marcão é o único técnico negro empregado na Série A. Somadas as duas divisões, ou seja, 40 clubes, somente ele e Felipe Surian, do Sampaio Corrêa, figuram como representantes negros.

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