Enquanto os jogadores se aqueciam para o clássico costarriquenho Saprissa e Alajuelense no gramado do Estádio Ricardo Saprissa, em San José, um torcedor a cinco mil quilômetros do local da partida se acomodava no sofá para acompanhar o duelo entre os rivais, realizado na semana passada. Em Fortaleza, assistir um jogo tão alternativo é possível graças à "superantena" parabólica do técnico em telecomunicações Elenilson Dantas da Silva.
Em poucos segundos, Elenilson consegue sintonizar 20 satélites diferentes e 500 canais abertos do mundo. Isso permite ao verminoso (termo usado no Ceará para definir um fanático por futebol) assistir a pelo menos 30 ligas nacionais e quase todos os campeonatos estaduais do Brasil. Além da Costa Rica, os torneios do Chile, Honduras, El Salvador, Nigéria, Kuwait, Angola e Grécia estão entre acompanhados por ele.
"O da Grécia é complicado porque o GC [Gerador de Caracteres] é todo em grego. Se você não conhece a cor dos times fica difícil saber quem está jogando", diverte-se o torcedor do Fortaleza Esporte Clube. Mas a preferência de Elenilson no ‘lado B’ do futebol é mesmo pelo duelo costarriquenho. "O jogo é nem é tão bom, mas as torcidas são muito fanáticas. É impressionante", diz ele, que comprou a antena em 2004.
Leia mais:
Com quase 80% de chance de título, Botafogo pode ser campeão nesta quarta
Londrina EC promete ter até 15 reforços para disputar o Campeonato Paranaense
Dez são presos por emboscada a cruzeirenses; presidente da Mancha continua foragido
Por que Palmeiras está atrás na disputa pelo título? Abel explica em livro
Entre os campeonatos estaduais espalhados pelo Brasil, Elenilson conta que já acompanhou histórias inacreditáveis. "Em um jogo entre o Potiguar de Mossoró e o América de Natal, o narrador da TV local passou pelo menos cinco minutos chamando os times invertidos", relata. Num fim de semana, o torcedor chega a assistir 12 jogos espalhados pelo mundo.
Copa
A relação de Elenilson Dantas com a Copa do Mundo é antiga. A primeira que ele acompanhou foi a de 1982, quando sua paixão pelo futebol despertou. E desde 1998 tira férias no trabalho durante os 30 dias de disputa do mundial. Para o Mundial de 2014, Elenilson garantiu ingresso para os seis jogos em Fortaleza. Também irá a Natal, na companhia do filho e de um amigo, para ver a partida entre Grécia e Japão.
A paixão pelo futebol, aliás, já passou para o filho Pedro, de 12 anos. Neste ano, a dupla foi a todos os jogos do Fortaleza no Campeonato Cearense como mandante, dois fora de casa e um amistoso – total de 21 apenas em 2014.
Coleção
Além da superantena parabólica, outra paixão de Elenilson é sua coleção de camisas de times. São mais de 300 uniformes – todos de equipes brasileiras e profissionais. No guarda-roupa futebolístico de Elenilson Dantas é possível encontrar camisas do Vilavelhense (ES), Gavião Kyikatejê (PA), Arsenal de Caridade (CE), Íbis (PE), São Cristovão (RJ) e Ji-Paraná (RO).
Para conseguir as camisas, ele geralmente liga para os dirigentes e faz plantão nos hotéis onde os times de fora do estado estão hospedados em Fortaleza quando vêm jogar contra as equipes locais. "Mas já cheguei a trocar camisa do corpo no estádio com torcedor adversário".
Pelada imperdível
Duas passagens curiosas da vida de Elenilson exemplificam bem a loucura do cearense pelo futebol. Certa vez, em 1999, o técnico em telecomunicações aproveitou um feriado prolongado para assistir um jogo em Belo Horizonte, na quinta-feira, um em Curitiba, no sábado, e outro no Rio de Janeiro, no dia seguinte. "Estava em Ribeirão Preto para um curso. Aproveitei a folga e fui de ônibus de uma cidade para outra", relata.
Jogar futebol também é sagrado na vida de Elenilson. Ele conta que, para não perder o bate-bola semanal com os amigos, chegou a adiar o enterro da avó da esposa para a manhã de um domingo. "Cheguei na funerária e disse que precisava esperar os parentes chegarem do interior para o enterro", conta Elenilson.
O verminoso número um de Fortaleza faz questão de frisar que só consegue se dedicar tanto ao futebol graças à esposa Rosângela, que o acompanha às vezes aos jogos do Leão do Pici. "Ela é muito compreensiva".